Há uns dias, um amigo emprestou-me um livro que, ainda não percebi bem porquê, achou que eu ia gostar. Uma obra com um curioso título: “Conversas com Deus”, do americano Neale Donald Walsh. Intrigado, decidi dar uma vista de olhos ao conteúdo. Pensei eu que seria um daqueles títulos incitativos e que se tratava de um qualquer ensaio teológico. Puro engano meu!... Era mesmo uma conversa com Deus. Sim… um diálogo! Mas não um diálogo normal. A bem dizer, às vezes, assemelha-se mais a uma conversa entre dois drogados a curtir uma trip de ácidos. Daquelas que não são verdadeiramente um diálogo, mas dois monólogos! Se não, vejam… a certo ponto, Deus, alegadamente, sai-se com isto: (tentem ler com voz arrastada e acrescentem a palavra “man” antes de cada duas ou três palavras) “Tu és um ser humano… E o que estás a ser é decidido e escolhido por ti... Quando és verdadeiro para com o teu próprio Eu, quando não trais o teu Eu, então, quando "parece" que estás a "dar", sabes que estás de facto a "receber". Estás literalmente a devolver-te a ti próprio. Não podes "dar" verdadeiramente a outro, pela simples razão de que não existe "outro". Se somos todos Um, só existes Tu. Não é um truque, mas é magia! E não se trata de mudar as palavras para alterar o sentido, mas de mudar percepções para alterar a experiência.” Quer dizer… quão grande teria que ser a “moca”. Eu não sei o que o tipo andou a tomar… mas o que quer que seja… também quero! Aliás, o meu dealer já está em cima do assunto e à procura de produto desta qualidade! A seguir vem outra pérola de sabedoria como: (ler da mesma forma) "Eu sou o Ser Supremo... Não sou o resultado de um processo; sou O PRÓPRIO Processo. Sou o Criador, e sou O Processo pelo qual sou criado. Tudo o que vês nos céus e na terra sou Eu, a ser criado. O Processo da Criação nunca está terminado. Nunca está completo... Nada está imóvel. Nada - nada - está sem movimento. Tudo é energia, em movimento." “Energia em movimento”? “Processo da Criação”? “Ser Supremo”? Isto é lá conversa de Deus?! Isto é palavreado de Engenheiro Electromecânico ganzado! Eu sim… é que converso com Deus. E muito regularmente, devo dizer. E asseguro-vos que Ele não fala assim. Tem, muito pelo contrário, uma maneira muito terra-a-terra de pensar. Aliás, sempre que falamos, mantemos diálogos absolutamente normais. Daqueles em que há perguntas, respostas, interrupções, pausas constrangedoras, piadas sexistas e em que um fala e o outro finge que ouve. Ainda ontem fez oito dias e vai ele para mim: “Eh pá, ó Raimundo, queres lá ir a casa jantar?" E vou eu: “Tss meu, hoje não posso. É pena… sabes que eu gosto dos teus cozinhados”. E volta Ele: “Eh pá… anda lá. Eu faço aquele lombo de porco assado que tu gostas tanto!... E podemos começar a entrar nos barris de cerveja que já comprei pró aniversário do meu rapaz…”. E respondi-Lhe eu: “Eh pá, ó Deus, mas hoje é quarta-feira… joga o Benfica com o Manchester prá Liga dos Campeões…”. E vai ele outra vez, que é chato como o caraças: “Fixe bacano… assim podes ver-me actuar ao vivo enquanto faço um milagre! Hoje vou tentar uma coisa revolucionária… vou dividir o talento do Cristiano Ronaldo pelo Beto e pelo Geovanni e dar as capacidades dos dois brasileiros, mais o feitio do Alberto João Jardim, ao puto madeirense”. E respondo-lhe eu: “Oh! Isso parece tudo muito divertido, mas tu não tens SporTV em casa meu… e sabes que eu gosto de ver as repetições”. E prontos… a conversa ficou por aqui porque o jogo já estava quase a começar e tínhamos que ir à nossa vidinha. Quanto ao livro… Não comprem. Não leiam. Não se incomodem em pedir emprestado a um amigo. O labrego do americano não falou com Deus. Isto porque, para quem não sabe, Deus mora na Pousadinha e raramente sai de casa. E que se saiba, nunca nenhum americano pôs os pés na Pousadinha. |