Morte aos que cantam. Morte aos que dançam. Morte aos que felizes não se lembram. Morte aos que não sabem porque não nem nunca quiseram saber. Morram os que vivem sem mordaças nem nunca as conheceram e que nunca disseram aquilo que queriam dizer. Derrubem-se os ídolos e os heróis intemporais. Silenciem-se os poetas que vomitam estâncias belas sem sequer as conhecer. Mate-se de sangue a sede às pedras dos altares de sacrifícios. Renovem-se as labaredas no fim dos autos-de-fé. E purgue-se ao sofrimento estes que não sabem sofrer. Morte aos que cantam. Morte aos que dançam. Morte aos pacientes que acenam que apesar de derrotados não sabem o que é perder. Achincalhem-se os sacerdotes. Crucifiquem-se os profetas. Afogue-se em chuva de enxofre os fiéis que lhes dão comer. E arrastem-se pelas ruas os governantes mal-amados. Os bem-governados. E os que lutam por poder. Morte aos que cantam. Morte aos que dançam. Morte aos que de luto aparentam não saber o que é morrer. Ah!... abatam-se as andorinhas. Finde-se a primavera. Sequem-se os rios. Queime-se a terra e tudo o que dela quiser florescer. E das entranhas das montanhas brotem rios de fogo e cinza. Revolte-se o mar e naufraguem os continentes. Craveje-se o planeta de meteoritos a arder. Até nada mais restar. Até nada mais se ver.. E quando o cataclisma acabar. Acendam os que restam uma fogueira nos destroços de um qualquer resto de terra. E cantem e dancem então à volta dela… até morrer. |
Achas então que fizemos tudo mal?...