terça-feira, junho 06, 2006
É o trabalho... o maldito trabalho

Se quereis ter alegria
De sol a sol trabalhai
Deus com o trabalho castiga
Mas castigando foi Pai

Livro da 3ª classe de 1960

Quem disse que o trabalho dignifica o Homem merecia um tiro no meio da testa. É que se há coisa pior que estar desempregado é ter, efectivamente, trabalho. Um emprego é, obviamente, uma coisa boa, desde que não implique trabalho. O trabalho, quando por conta de outrem, é, per se, uma actividade vexatória que declara a condição menor do trabalhador em relação ao empregador que compra com dinheiro o tempo, o saber e a disponibilidade física e mental do primeiro.

A juntar a isto, essa remuneração é, à maior das vezes, exígua e inadequada às funções do operário. Pior… às vezes chega atrasada… quando chega. O problema é que, mesmo nestas condições, o pobre do trabalhador – exactamente porque é pobre – não pode viver sem trabalho. A razão mais evidente é a sua necessidade de sobrevivência com dignidade. É que, apesar de tudo, a maior parte das pessoas pobres ainda conservam aquele pingo de decência que as leva a optar por ganhar a vida de forma honesta. Não por acreditarem que o trabalho, em si, os dignifica enquanto homens e mulheres, mas por não conceberem outro meio de subsistência que não o do justo ordenado ao fim do mês. Aliás, até trabalham melhor se tiverem perspectivas de serem promovidos a uma posição que implique ganhar mais e trabalhar menos.

O trabalho é tão bom ou tão mau que é destinado, quase exclusivamente, às classes mais baixas da sociedade. Está bem, está bem… há ricos que trabalham. Mas também há velhotes com força na verga. Ou seja: são uma admirável excepção à regra.

O trabalho é tão coisa de pobre que os pobres passam a vida a jogar no totoloto, na lotaria e no euromilhões na esperança de deixarem de ser pobres e de poderem não trabalhar. Este é, aliás, o principal, senão o único, motivo que leva milhões de pobres a investir considerável percentagem do vencimento em jogos de azar todas as semanas. À pergunta “o que faria se lhe saísse a sorte grande?”, a maioria das pessoas – com a excepção dos hipócritas, pois claro – atira, sem hesitar, um óbvio “deixava de trabalhar”.

É que, um tipo até pode gostar do que faz, ainda que dê trabalho, mas não estará nunca satisfeito com a sua condição de trabalhador porque trabalhar implica perder tempo que poderia dispensar a fazer coisas que gosta mais de fazer. Como escrever barbaridades num blog, só a título de exemplo.

Eu já me desiludi. Por muito que trabalhe nunca hei-de trabalhar menos… nem ganhar mais. Pelo menos de forma honesta. Já estou conformado com a fatal inércia da minha “carreira profissional”. Porra... já ficava satisfeito se o miserável ordenado chegasse a tempo e horas.

posted by Raimundo @ terça-feira, junho 06, 2006  
2 Obscenidades evitáveis:
  • At 06 junho, 2006 10:54, Anonymous Anónimo said…

    Até que enfim o grande Raimundo regressa. O maralhal daqui já andava a estranhar a tua ausência. Mas tudo bem... já deu para perceber. "É o trabalho... o maldito trabalho".

    Bom... mas suponho que estejam a chegar as tuas férias...

     
  • At 08 junho, 2006 21:25, Anonymous Anónimo said…

    Raimundo,
    Que esperança depositavas no trabalho? Dinheiro, fama e glória? Mais depressa te enfias na cama com a Glória do 3º andar! Não sabias que o trabalho, embrulhado do papel brilhante da realização pessoal, não passa de um presente envenenado e fruto de um engodo?...

     
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