O ano era 1995. Ainda se chorava a morte de Kurt Cobain um ano antes. O anunciado falecimento do grunge estava próximo. Com No Code, um ano mais tarde, os Pearl Jam disparavam a bala misericordiosa que acabaria com o sofrimento do animal, e gravavam a letras douradas na sua lápide: “gonna make you smile/when the sun don’t shine/ gonna make you smile/ …I miss you already”.
O ano era 1995. O mundo, tal como o conhecíamos na ingenuidade dos nossos 18 anos acabadinhos de sair do Liceu, estava prestes a acabar. Um outro mundo abria-nos então as portas. Um mundo imensamente mais brilhante. E arrebatados pelo maravilhoso cintilante esquecemos todos o adágio que alerta que “nem tudo o que luz é ouro”.
Era 1995. O futuro parecia tão… fácil. Tão ao alcance. Tão… “What’s the story (morning glory)”. Ilusão! O que brilhava não era efectivamente ouro. Eram apenas holofotes de alta potência apontados a nós. Não para iluminar o caminho… mas para encandear. E quais traças, durante cinco anos avançámos sôfregos na sua direcção… crédulos na boa vontade dos homens. Até o calor nos queimar as asas.
1995. Ainda chorávamos a morte de Cobain. Mas por nós o grunge já podia morrer. Tinha cumprido com a sua função. Acompanhara solidariamente todas as depressões de uma adolescência da qual queríamos então livrar-nos. Tinha sido a almofada confortável onde repousáramos a cabeça em meditação… e a bandeira de uma diferença que reivindicáramos em relação ao mundo. Tinha sido útil. Mas já não era necessário.
95. O grunge estava moribundo. E todos sabíamos que era só uma questão de tempo até que a sua chama se apagasse. Mas num último esgar de consciência… numa derradeira e desesperada tentativa de sobrevivência… o animal por nós traído voltou a erguer-se. E ainda que ferido, por instantes, voltou a ser a besta magnífica que nos revolvia a alma com versos subversivos.
E do alto da magnificência de quem aceita a própria morte, arqueou um sorriso vingativo, franziu levemente o sobrolho e começou a segredar-nos o futuro ao ouvido: “The world is a vampire / set to drain”…
Smashing Pumpkins | Bullet with butterfly wings | Mellon Collie and The Infinite Sadness | 1995 |
Eia! Que saudades. Da música e das tuass postas. Vê lá se não desapareces tanto tempo.
Abraço