Skippy era um americano. Não um cidadão no verdadeiro sentido da palavra. Mas, ainda assim, um americano. Na verdade, era um cão da pradaria. E, com certeza, este não seria o seu verdadeiro nome. Mas foi o que a equipa de reportagem do Discovery Channel lhe pôs num documentário sobre a vida selvagem no Midwest dos EUA. Antes de contar o resto da história de Skippy convém elucidar o leitor sobre alguns factos acerca dos cães da pradaria. Em primeiro, começar por dizer que estes animais vivem em comunidades que chegam a atingir os 35 indivíduos. Acrescentar ainda vivem em sociedades hierárquica e socialmente organizadas. Cada elemento do grupo tem funções específicas nas quais se especializam, como se fossem profissões (sentinelas, forrageiros, escavadores). Para além disso, são extremamente solidários com os da sua comunidade, mas bastante desconfiados dos outros que, mesmo sendo da sua espécie, pertencem a outro clã – faz-te lembrar alguma coisa Post_it?. Uma comunidade vive numa área relativamente pequena. E embora cada indivíduo tenha a sua própria toca, ajudam-se mutuamente na sua escavação. Aliás, não podia ser de outro modo porque, enquanto uns estão a “construir a casa”, outros estão de sentinela para avisar sobre potenciais predadores (que da cobras às águias, passando pelos coiotes e pelos linces, não são poucos) e outros andam à procura de comida para toda a gente. Quando várias fêmeas dão à luz, as crias são amamentadas às vez por uma delas, enquanto as outras se juntam ao grupo dos forrageiros. Quando um predador é avistado, a solução é correr o mais depressa possível e procurar um esconderijo, mas se um estiver a ser ameaçado, os outros criam uma manobra de diversão para dar uma oportunidade ao companheiro para fugir. E, embora para a história não signifique muito, aqui ficam mais dois dados curiosos acerca destes bichos de 30 centímetros: 1 – São brilhantes “engenheiros civis”. Constroem as suas tocas de modo a prevenir cheias. Fazem uma saída de emergência para fugir aos predadores rastejantes, para além de vários compartimentos de armazenagem de alimentos, e para dormir. 2 – Acredita-se que, a seguir ao homem, os cães da pradaria tenham o mais complexo sistema de comunicação verbal, já que emitem uma infinidade de sons diferentes consoante o companheiro a quem se dirigem, o predador que avistam, ou a comida que encontram… entre outras situações. A seguir ao homem, não me ocorre outra sociedade tão bem organizada. E, embora por instinto, a sua dedicação à preservação da comunidade não deixa de ser notável. Voltamos agora ao Skippy. O dito, um cão da pradaria de cauda castanha, vivia feliz e contente como sentinela do seu clã. Até ao malfadado dia em que a sua comunidade de cerca de 10 indivíduos foi atacada por três coiotes (coisa estranha porque estes até caçam sozinhos). Foi um massacre, e quando a matança começou, só o Skippy escapou. Sobreviveu sozinho durante alguns dias, ao fim dos quais se deparou com um outro clã de cães da pradaria. Só, cheio de fome e de medo, Skippy tentou aproximar-se. Os outros, que eram cães da pradaria de cauda preta (só a cauda é que é diferente, porque de resto são iguaizinhos), obviamente repeliram-no. Primeiro com ameaças verbais, que depressa passaram a físicas quando ele tentou uma e outra vez entrar no grupo.
(Por questões que se prendem com a incapacidade de síntese do autor, a história, tal qual uma grande produção da BBC sobre a vida de um personagem famoso qualquer, foi dividida em duas partes para não massar o leitor. Não perca amanhã, à mesma hora, num blog perto de si... a segunda parte da história de Skippy, o cão da pradaria)
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