Basicamente, os elementos do clã ignoravam-no. Ele andava por ali a arrastar a sua cauda castanha, cabisbaixo. Os outros olhavam-no de soslaio… desconfiados. Comia as migalhas que os outros deixavam para trás – ou qualquer outra coisa que encontrava casualmente – porque nunca fora grande coisa a procurar comida. Os de cauda preta juntavam-se às vezes perto do monte de bolotas e pinhas e nozes. Pareciam falar uns com os outros e sempre que Skippy se aproximava era achincalhado com latidos estridentes e ameaçadores. Até que Skippy decide fazer aquilo que fazia melhor e, numa bela manhã, sai da toca que construiu sozinho e coloca-se de sentinela numa das extremidades da cidade (é mesmo este o termo que os zoólogos chamam ao aglomerado de tocas). As semanas foram passando sem que a relação entre o nosso rapaz de cauda castanha e o clã de caudas pretas tenha tido qualquer melhoria assinalável. Até que um dia… Um dia, uma cobra malvada e com muito mau aspecto aproxima-se da cidade. O Skippy topou a meliante e desata aos guinchos e aos saltos para avisar o pessoal (é assim que eles avisam o pessoal… aos guinchos e aos saltos). E depois, claro está… desata a correr à procura de um sítio seguro, tal como todos os outros. Para trás ficou uma cadela da pradaria com uma ninhada de pequenos cãezinhos da pradaria que não conseguiam fugir para lado nenhum. O destino deles estava traçado. Dentro de minutos seriam comida de cobra. Mas, do seu esconderijo, o nosso Skippy apercebeu-se da situação e não esteve com meias medidas. Sai a correr, mete-se em cima de uma pedra e começa a chamar a atenção do réptil mesmo à sua frente. Guinchou, saltou, agitou-se todo, dançou a macarena… Não sei o que passou pela cabeça da serpente. O certo é que a pérfida criatura, ao fim de alguns segundos de estupefacção, dá meia volta e desaparece. Aos poucos, os cães foram-se juntando outra vez, como quem faz o balanço dos estragos depois de uma catástrofe. E o nosso herói afastou-se para a sua toca sem sequer olhar para trás… Assim tipo à Clint Esatwood. Mas algo havia mudado no seio do clã de caudas pretas. Os indivíduos olhavam uns para os outros até que três deles saíram do grupo e foram directamente à toca do Skippy. O bicho de rabo castanho vem cá fora, e após mais uns latidos e guinchos e saltinhos e empurrões amigáveis trouxeram-no para o meio dos outros. A partir desse dia, o Skippy passou a ser tratado tal e qual como um “cauda preta”. Com direitos e deveres dentro da comunidade. Mas se já espanta o comportamento integracionista nestes animais, que dizer do seguinte, também documentado pelos investigadores do Discovery: Os cães da pradaria de cauda castanha são, por natureza, mais extrovertidos que os seus familiares de cauda preta. São mais brincalhões e travessos, ao passo que os segundos são mais “sérios” e “rotineiros”. Ao “adoptarem” o Skippy, os caudas pretas aprenderam coisas novas. Alguns dias depois, os outros já imitavam as suas brincadeiras, sem, contudo, descurarem os seus deveres. Resumindo: a chegada de Skippy ao clã, para além de providencial, proporcionou uma troca de experiências que se revelou benéfica para ambos, e um considerável salto evolutivo naquela sociedade que, de outra forma, nunca teria acontecido. A história destes cães da pradaria é verídica e termina aqui. Moral?... parece-me ser bem explícita. Mas, de qualquer modo, deixem-me dar-vos uma dica na forma de questões: Como é que nós, enquanto membros de uma comunidade, tratamos os nossos Skippies? Como é que olhamos para eles mesmo depois de eles terem afugentado as serpentes? Como é que nos relacionamos com eles mesmo depois de nos ensinarem a dar cambalhotas novas? Acolhemo-los na nossa “cidade” e repartimos a nozes com eles, ou continuamos a olhar de soslaio para as suas caudas castanhas? Os cães da pradaria do Midwest americano já aprenderam. E nós? |
é uma das histórias mais bonitas que já li :)
eu como dona de um cão da pradaria compreendo bem alguns dos comportamentos descritos na história :)