terça-feira, fevereiro 14, 2006 |
Uma semana sabática |
Por razões que não dizem respeito a ninguém, durante os últimos sete dias o Mundo Por Raimundo esteve a modos que parado. Decidi tirar uma semana sabática para me dedicar aos prazeres a que gosto de me dedicar sem ter que ouvir - "ler" seria um termo mais apropriado ao caso, mas não me apeteceu apagar e reescrever - comentários aos meus posts sobre liberdade de expressão e de como eu estou certo de que estou certo do mesmo modo que estou certo que os outros estão errados a não ser que concordem comigo.
Portanto, àqueles que não concordam com a minha visão sobre o assunto não tenho nada a responder a não ser que me estou a marimbar para a vossa opinião apesar de vos reconhecer o direito a tê-la - e isto é que é importante! A liberdade de expressão, afecte quem afectar, choque quem chocar, e veicule uma verdade ou uma mentira é, para mim, um direito tão natural como o ar que se respira. E, assim, não está sujeita a qualquer tipo de negociação. Eu não a troco pela paz no mundo, pelo fim da fome em África, pelo desarmamento nuclear ou por qualquer outro desejo de uma qualquer candidata a Miss Universo. Se houver quem o faça em nome do conforto nas relações entre raças, cores ou credos... está no seu direito. Não o faça é em meu nome! E não conte que eu me cale!
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posted by Raimundo @ terça-feira, fevereiro 14, 2006 |
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3 Obscenidades evitáveis: |
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Pois é, mas nisto de liberdade de expressão enquanto direito absoluto, há algumas nuances. Que não se pense que não concordo com esse direito acima de tudo, mas também é um facto que, em certos contextos, há que saber usá-la. Ora vejamos a notícia saída ontem num jornal:
Ministro italiano mandou fazer "t-shirts" com caricaturas de Maomé 14.02.2006 - 21h28 AFP
O ministro das Reformas do Governo italiano, Roberto Calderoli, mandou fazer "t-shirts" com reproduções das polémicas caricaturas sobre Maomé publicadas por alguns jornais europeus.
"Mandei confeccionar 't-shirts' com as caricaturas contestadas pelo Islão e vou usá-las a partir de hoje", afirmou Calderoli em declarações à agência noticiosa italiana Ansa.
O governante faz parte da Liga do Norte, partido que integra a coligação governamental do Executivo presidido por Silvio Berlusconi e que é conhecido pelas suas tomadas de posição xenófobas.
"Estou pronto para oferecê-las a quem as pedir", acrescentou Calderoli, recusando que o seu gesto possa ser entendido como uma provocação.
"É preciso acabar com esta fábula de que é necessário dialogar com estas pessoas. Querem humilhar-nos. É tudo", afirmou o governante, antes de elogiar as declarações do chefe do Governo austríaco.
"Felizmente que na Europa há líderes como o chanceler austríaco, Wolfgang Schüssel, que afirmam que nós, europeus, não abdicaremos do nosso modo de vida", disse.
"É necessário pôr fim a esta tendência de baixar as calças e às distinções hipócritas entre Islão terrorista e Islão pacífico", concluiu Calderoli."
Que se pode pensar disto?
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Pode-se pensar que ele é extremista, e racista, e popularucho, e em geral idiota, mas que tem o direito de expressar a sua opinião, pois se hoje suprimimos a dele, amanhã suprimem a tua, e não estará lá ninguém para te defender.
A diferença entre uma democracia e uma ditadura, acima de tudo, reside neste ponto fundamental.
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Pois, mas aqui a questão não é: bem, assim de repente, e no meu exercício de liberdade de opinião, vou fazer uns cartoons. A questão é que ele decidiu isto não por acaso e porque se lembrou de expressar a sua opinião, mas sim no seguimento da polémica das últimas semanas, que pretende aproveitar e radicalizar ainda mais. A questão aqui, é que há terrorismo com bombas, também há terrorismo verbal, que muitas vezes desencadeia o terrorismo físico. Por outras palavras: quanto aos cartoons, percebe-se e compreende-se a sua publicação, mas depois de tudo o que sucedeu já não posso nem quero aplicar a mesma compreensão a atitudes como esta deste ministro. Tal atitude revela tudo isso que disseste, mas também uma imensa irresponsabilidade e falta de sentido de Estado. Por outro lado, considerando o que se vinha passando e a polémica toda, ele não procura de facto exercer a sua liberdade, mas sim ofender e provocar. Logo, se é esse o seu objectivo, porque hei-de, eufemisticamente, chamar-lhe liberdade de expressão? Quero dizer com isto que todos (inclusive eu próprio) achamos de facto que acima de tudo a liberdade de expressão, mas que coisas como esta me fazem ter dúvidas se devemos ou não elevar tal valor à categoria de "absoluto". Uma coisa é um jornal publicar certas coisas no exercício da sua liberdade de expressão, o que não vincula um povo nem um Governo, outra coisa é um ministro ou alguém com responsabilidades públicas fazerem estas figuras, à pala da suposta "liberdade". É que em determinados contextos (como o que se tem vivido) e cargos, proclamar certas coisas tem consequências imprevisíveis pelas quais quem as proclama devia prestar contas. É como um dirigente de um clube passar a semana toda a insultar da pior maneira o do outro na véspera do grande jogo e depois admirar-se, inocentemente, da batalha campal que provocou hospitalização de vários adeptos...
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Pois é, mas nisto de liberdade de expressão enquanto direito absoluto, há algumas nuances. Que não se pense que não concordo com esse direito acima de tudo, mas também é um facto que, em certos contextos, há que saber usá-la. Ora vejamos a notícia saída ontem num jornal:
Ministro italiano mandou fazer "t-shirts" com caricaturas de Maomé
14.02.2006 - 21h28 AFP
O ministro das Reformas do Governo italiano, Roberto Calderoli, mandou fazer "t-shirts" com reproduções das polémicas caricaturas sobre Maomé publicadas por alguns jornais europeus.
"Mandei confeccionar 't-shirts' com as caricaturas contestadas pelo Islão e vou usá-las a partir de hoje", afirmou Calderoli em declarações à agência noticiosa italiana Ansa.
O governante faz parte da Liga do Norte, partido que integra a coligação governamental do Executivo presidido por Silvio Berlusconi e que é conhecido pelas suas tomadas de posição xenófobas.
"Estou pronto para oferecê-las a quem as pedir", acrescentou Calderoli, recusando que o seu gesto possa ser entendido como uma provocação.
"É preciso acabar com esta fábula de que é necessário dialogar com estas pessoas. Querem humilhar-nos. É tudo", afirmou o governante, antes de elogiar as declarações do chefe do Governo austríaco.
"Felizmente que na Europa há líderes como o chanceler austríaco, Wolfgang Schüssel, que afirmam que nós, europeus, não abdicaremos do nosso modo de vida", disse.
"É necessário pôr fim a esta tendência de baixar as calças e às distinções hipócritas entre Islão terrorista e Islão pacífico", concluiu Calderoli."
Que se pode pensar disto?