Ainda continuam penduradas. Estes dias todos e só agora me dei conta. Ainda estão penduradas. As minhas bolas. Ali abandonadas e negligenciadas há mais de duas semanas. Quase 15 dias sem reparar nas bolas. E elas ali. Ao pendurão. Todas elas. As minhas 47 bolas. Já devia ter desmontado o presépio. Mas ainda não tive… pachorra. Uma das coisas mais chatas do ano é ter que desmanchar o presépio. E todos os arranjos e eteceteras. E então, acho que, inconscientemente, fui adiando a tarefa. Há pouco precisei usar o scanner e é que reparei. Mesmo em cima do aparelho um arranjo composto por duas largas velas verde e vermelha contornadas por uma fita de tiras brilhantes da mesma cor e ornamentada com duas bolinhas douradas impedia-me de abrir a tampa. A princípio estranhei. Depois pensei de mim para comigo: “espera lá… isto é um arranjo de Natal. O que raio está a fazer esta cena em cima do scanner? Queres ver que eu ainda não arrumei o presépio e os enfeites!”. E à medida que levanto lentamente a cabeça constato com horror a terrível realidade à qual tinha conseguido escapar nas duas últimas semanas. O pinheiro de plástico continua em cima da secretária, no habitual sítio da impressora, todo enfeitado com neve de spray, bolinhas douradas e vermelhas e um boneco de neve em miniatura em cima de uns esquis. Ao lado mantêm-se as figurinhas de barro com o Jesus e o José e a Maria e o Burro – a vaca não sei onde se meteu. As fitas cintilantes continuam presas nos varões das janelas e nas estantes e na moldura com o mapa da Europa. E no parapeito da janela continuam as velinhas em forma de estrela e de árvore e de boneco de neve e de um meio Pai Natal.
E é um ambiente estranho. De repente o meu pequeno escritório parece uma daquelas velhas e decadentes actrizes de teatro que vestem um vestido espampanante dos anos 60 e se lambuzam de pó de arroz e batom escarlate. Que não se dão conta da própria figura patética e se recusam a assumir que o seu tempo já passou. O tempo do meu presépio também já passou. Mas por mais decadente e patético que o meu escritório pareça, vai continuar assim. Hoje não tenho pachorra para o arrumar. E amanhã também não me parece que vá ter. E a bem dizer… por mim até lá pode ficar tudo até ao próximo Natal. Talvez quando voltar a precisar de ligar a impressora finalmente desmonte tudo. Mas vai daí… e hoje preferi não usar o scanner. |