Esta é a segunda metade de uma história que começou no post anterior. Se ainda não o leu, talvez o queira fazer agora, se não, tanto se me dá como se me deu!
Quanto a mim, depois de ter sido obrigado a vestir a roupa que tinha na mochila, esperavam-me umas valentes reguadas. Levei até ficar com a palma das mãos dormentes. Nem sei quantas. Perdi-lhe a conta às 50. Mas não chorei. Porque o Conan… não chora! Depois a professora levou-me a casa puxado por uma orelha que, juraria, ficou com o dobro do tamanho. Contou tudo à minha mãe. - O que é que tu fizeste?!!! - …Matei o Super-Homem… - disse, sem nunca tirar os olhos do chão. Levei mais uma tareia. Desta vez de chinelo. Não doía muito, mas eu e os meus irmãos fingíamos sempre muito choro para ela não se lembrar de arranjar um instrumento que doesse a valer. E, à noite, ia chegar o meu pai. Havia, ainda, a possibilidade de sentir o cinto. Mas o homem deve ter achado que eu já tinha levado a minha conta e ficou-se por uma palestra pedagógica. O que eu não esperava era que aparecesse lá por casa, a seguir à novela, a mãe do Serginho acompanhada pelo rapaz e pela sua cabeça envolta em ligaduras. A minha mãe foi à rua falar com a mulher e eu fiquei a espreitar por um canto da janela da cozinha. - Já viu o que o seu Raimundo fez ao meu Serginho? - Pois. Desculpe lá. Sabe como são os catraios! – tenta acalmá-la! - Levou 12 pontos na cabeça! - Deixe que eu pago-lhe a conta do hospital! - Não quero que pague nada. Quero é que dê uma coça valente ao seu rapaz. Se há coisa que a mãe detesta é que lhe digam como fazer o que quer que seja. Quanto mais educar um filho. - O meu rapaz já levou a coça que tinha que levar. - Não chega. Tem que levar mais. Que é para não voltar a fazer isto! 12 pontos!... já viu? - Olhe… quem decide como castigar o meu filho sou eu. Amanhã eles já são amigos outra vez e nem se vão lembrar disto. Se quer que lhe pague a conta tudo bem… se não, pode voltar pelo caminho que veio. - Com uma mãe assim não admira que o filho saia como saiu. A minha velhota esboça o início de uma resposta… mas vira-lhe as costas e encaminha-se para dentro de casa. A outra não desiste… - O seu filho é um bárbaro! – grita desde o portão da entrada – Um bárbaro!... A minha mãe vê-me a espreitar pelo fundo da janela. Pára. Volta-se para trás e, com um brilhozinho de raiva nos olhos, devolve-lhe no mesmo tom antes de bater com estrondo a porta de entrada: - Pois é!... Mas não é um bárbaro qualquer!... É o Conan!... E acaba de abrir a cabeça ao Super-Homem!
Quando ela passa por mim estou de pé junto à janela. Com um sorriso de orelha a orelha. De peito feito por achar que, apesar das chineladas, ela está orgulhosa de mim… - Estás a rir-te de quê? Para o ano, no desfile da escola, vais de fada madrinha com o vestido da tua irmã! Para mal dos meus pecados, a minha mãe cumpre sempre as promessas… |
De Conan é, pelo menos, original... já eu ía sempre de Zorro com aquele kit tradicional que já vinha com uma pistola, uma estrela, uma espada de 30 centímetros e um chapeu de um plástico manhoso que rompia ao fim do primeiro dia...