terça-feira, dezembro 27, 2005
Contando os pares de meias...

O Natal acabou… Louvado seja o Senhor!

Acabou o cheiro a bacalhau com couve cozida, bacalhau assado, bolinhos de bacalhau… E, por um ano, não mais vou ter que gramar com rabanadas e filhozes. Nem com arroz de polvo. Nem com Bolo Rei com aqueles ingredientes fluorescentes que o pessoal acredita que já foram fruta outrora. Nem com vinho espumante italiano a imitar champanhe francês comprado em promoção num supermercado alemão.

Acabou o corrupio de familiares que já não via desde o último Natal. Acabaram os comentários senis da tia Maria, para quem todos os anos cresci sempre mais um bocadinho, estou sempre muito diferente e já pareço um homem. Não mais terei que responder com um sorriso hipócrita às piadas do tio Zé sobre o meu cabelo comprido, a minha barba por fazer, de como pareço um drogado e de como só me falta o brinco no nariz. Apetece-me dizer “tu lá sabes… o teu filho é que está numa clínica de desintoxicação”! Mas… é Natal. E deixo-me arrastar pela onda de fingimento geral e cinismo disfarçado como manda a natalícia tradição. E torno-me num deles. Um zombie a cuspir frases feitas e a responder com gargalhadas a comentários desprovidos de qualquer tipo de piada.

Terminaram, por fim, os constrangedores momentos à volta da lareira em que temos que responder como nos está a correr o emprego… por que não vamos trabalhar para o banco onde já está o primo… por que não estamos ainda casados… por que ainda não trocámos o carro tal como o primo que trabalha no tal banco onde nós deveríamos estar a definhar também… por que não visitamos mais a família…

O Natal acabou… Louvado seja o Senhor!

Agora é tempo para retemperar forças… para avaliar os estragos… para contar os pares de meias. E para esvaziar as caixas dos “ferreros rochés” e dos “mon cherries” antes que venha o calor e eles percam as propriedades que fazem deles únicos. É tempo de sentar no sofá, beber uma cerveja, ver um filme violento e ouvir um disco hard-core para purgar o organismo do “cinema Pai Natal” e dos cantos gregorianos e da Nana Mouskouri.

Acabou… e agora tenho mais um ano para me preparar para nova investida familiar. Porque, pelo próximo Natal, continuarei a fazer o que gosto apesar de pagar pouco. Continuarei a desprezar o labrego do primo que trabalha no banco onde todos querem que eu vá trabalhar. E continuarei a ter relações sexuais com uma rapariga com quem nunca vou casar no banco traseiro do meu carro que está velho demais para aguentar duas viagens de 200 quilómetros para visitar a família. A família… O diabo que os carregue… até ao próximo Natal!

posted by Raimundo @ terça-feira, dezembro 27, 2005  
0 Obscenidades evitáveis:
Enviar um comentário
<< Home
 
 


Nome: Raimundo
Morada: Algures em algum sítio, bem no meio de..., Portugal
Que mais queres tu?
Então vê o perfil

Blog aberto a fumadores. E não... não temos as dimensões estipuladas por lei para poder ter um espaço para fumadores. E como estamos num país de chibos, já estou mesmo a ver: um dia destes há uma denúncia anónima e aparecem-me aí uns estupores da ASAE para fechar o tasco!

http://www.totse.com/en/bad_ideas/ka_fucking_boom/atomic.html

Imbecilidades diárias
O Mundo desde o início
Mundos aliados
Mundos de subversão
Mundos da Cova
Mundos de sabedoria
Mundos em hibernação
Usurários

Powered by Blogger

15n41n1