Não há sentimento pior que a falta de resposta a um insulto. Principalmente se isso acontece em público. Não há momento mais frustrante que aquele em que alguém nos achincalha verbalmente sem que consigamos extrair do intelecto uma resposta à altura. Pelo menos, à falta de uma que reflicta a ignomínia de volta à origem, uma que apare o golpe. É uma situação humilhante a falta de resposta. Sentimo-nos pequeninos. Muito pequeninos. E desejamos um buraco onde nos esconder dos olhares casuais que nos miram com a piedade que merece um moribundo. E, de repente, desejamos o fim do mundo. Mesmo que isso signifique a nossa morte… desde que Deus – ou o Diabo – nos deixe sobreviver um segundo que seja ao diletante provocador. Para que a última gargalhada seja a nossa. Para que possamos admirá-lo com um sorriso levemente diabólico enquanto se contorce em agonia e nos pede ajuda com o olhar. Não há mais pesado fardo que o brusco acumular de raiva provocado por um vitupério mal encaixado. Nem mais arreliadora sensação que aquela que nos acompanha nos momentos imediatos à incapacidade argumentativa. Durante o resto do dia assalta-nos o pensamento uma quantidade infindável de frases que deveríamos ter dito oportunamente se o cérebro não tivesse parado. Mas as respostas que nos chegam tardiamente, em vez de confortarem, só agudizam a nossa agonia. “Porque é que não lhe respondi assim? Havia de o ter deixado de rastos!” Ao invés, há poucas coisas tão boas e gratificantes como a pronta resposta. Um contra-ataque tão rápido quanto letal. Uma réplica venenosa carregada de toxinas, não mortais mas paralisantes, que deixem a vítima incapaz de reagir, mas consciente o suficiente para sentir o descrito nos três parágrafos anteriores. Ah… gloriosa catarse! Vem isto a propósito de uma situação ocorrida há poucas horas enquanto me deslocava, de automóvel, para o emprego. Num cruzamento já perto do local de trabalho, abrandei a velocidade sem parar completamente. Trata-se de uma zona quase exclusivamente pedonal, onde circulam muito poucas viaturas. Como raramente me cruzo com qualquer carro naquela intercepção, nunca paro completamente. Limito-me a abrandar e a espreitar os dois lados da estreita estrada tapada por um edifício alto de cada lado. Ora, enquanto olhava o meu lado esquerdo, fui avançando lentamente com o carro, e só quando virei a cabeça para o meu lado direito me apercebi que tinha impedido a passagem de duas raparigas que queriam atravessar a estrada a pé. Parei o carro imediatamente para lhes dar passagem. Ora, não sei se pelo incómodo de ter que dar mais dois passos para contornar o meu carro, se por estar com o período, ou se por ser pura e simplesmente uma grande cabra, uma das moças vira-se e atira com um sorrisinho irritantemente sarcástico: “Onde é que compraste a carta?... Numa loja dos 300?”. A rua estava cheia de gente, alguma da qual eu conheço pessoalmente. E os olhares que me deitavam, embora sem qualquer tipo de maldade, atravessaram-me tão dolorosamente como o risinho de escárnio da amiga silenciosa. Oh calamidade!… o que ela se lembrou de dizer. Esta é a pior insinuação que se pode fazer a um homem latino. Macho ou não. “Onde é que comprei a Carta?... Olha-me esta vaca!...” Ela não vai ficar sem resposta. Baixo imediatamente o vidro e disparo, assim, à queima-roupa: “A Carta saiu-me numa rifa que comprei na Feira Popular. Mesmo ao lado da Casa dos Horrores, onde tu compráste essa puta dessa cara feia!”. O sorriso escarninho da amiga transforma-se num esgar de indignação. Até porque a miúda em causa é mesmo a atirar para o desengraçado. E os olhares voltam-se agora para ela. E aposto que na sua mente está a fazer pactos com Deus e com o Diabo. Mas o mundo não acaba e eu não me contorço em agonia. E de repente dá por si a pensar que se ao menos houvesse um buraco… |
Moral da historia: nao insultem o Raimundo! LOL...
O k eh catarse? e ignomínia? e diletante? e vitupério?.. Pois eh bacano curti bueeees o teu blog... mas eh preciso um dicionario para ler as cenas k escreves!... nao... a serio... tah muita fixe! Escaquei o coco a rir!...
Keep it coming baby!