Aconteceu ontem. E o
acontecimento merece relevo por poucas, mas notáveis, razões. Em primeiro, e
sobretudo, porque já não acontecia - comigo - há muito tempo. Ontem, pela
primeira vez, creio que em muitos anos - pelo menos desde o primeiro
"Jeepers Creepers" - vi um dos piores filmes jamais produzidos,
realizados e representados... até ao fim.
Por norma, quando não gosto de um
filme por qualquer razão, mudo de canal; fecho a janela do browser e escolho
outro filme; saio a meio da sala de cinema; ou, simplesmente, adormeço.
Ontem não foi um desses dias.
Ontem a fita era tão má, tão má, tão má que, a determinado momento, se
tornou... interessante.
Eu não sou propriamente fascinado
pela mediocridade. Nem creio que haja nela qualquer mérito. Mas quando essa
mediocridade atinge níveis abaixo de zero a coisa passa para o domínio da
bizarria. E o bizarro é confrangedoramente interessante, cativante...
hipnotizante.
E foi com o espírito mesmerizado
que, oito minutos apenas depois de me ter instalado no sofá e clicado no
botãozinho play no meu site favorito
de filmes, eu continuei a ver essa pérola
de vulgaridade, essa ode à frivolidade que dá pelo nome de... 'ta-daaa'... BATTLESHIP.
Vá foda-se!... BATTLESHIP!... Os
gaijos até lhe deram um nome imponente. É singelo, simples, pouco presunçoso. Respeitável
até. Parece que se trata de uma coisa séria!
Vou ser sincero. A primeira
coisa que vi do filme, num teaser,
há uns meses atrás, foi um portentoso navio de guerra, o Liam Neeson e a
palavra BATTLESHIP! Convenceu-me, admito. Gosto de navios de guerra. Gosto do
Liam Neeson. E BATTLESHIP, só assim, sem mais nada, dava-me a entender que
vinha aí um épico do género.
Depois vieram os trailers e a coisa começou a
desvendar-se: "Afinal parece que há extra-terrestres metidos ao barulho!
Porra, lá vão os americanos ter que expulsar a pontapé e à bastonada a enésima raça de criaturas de
outros planetas que nos vêm cá foder o juízo e acabar com o nosso sossego",
pensei eu. E pensei bem. Mas prontos...
como até sou adepto da ficção científica, achei que estava preparado para
assistir a mais uma versão do triunfo do engenho humano sobre o mais que
evidente e avassalador avanço tecnológico da força invasora. Achei mal... Achei
tão mal.
A verdade é que nada nos prepara
para um BATTLESHIP. Nada!
BATTLESHIP é um hino à falta geral
de ideias... e à falta de coerência das poucas que o guionista teve. É o cinema
blockbuster elevado ao ridículo. É pornografia de luzes, explosões e frases feitas
de cinco palavras. É a prova de que, efectivamente, é possível fazer um filme só
com efeitos (não assim tão) especiais e sem um único diálogo com o mínimo de
substância. BATTLESHIP é Peter Berg a chamar "coninhas" ao John Woo.
Abençoados sejam, porém, os
engenheiros que desenharam as criaturas extra-terrestres. Porque qualquer uma
delas é mais expressiva que os actores que deram vida às personagens mais
enfadonhas, previsíveis e estúpidas que um filme de acção alguma vez
imortalizou. Comparado com estes... Arnold Schwarzenegger merecia um Óscar pelo
trabalho em "O Predador".
Mas são os pequenos pormenores
que vão tornar BATTLESHIP num filme "de culto". Talvez não pelas
melhores razões mas, ainda assim, "de culto". Detalhes que, por um
lado, levam o filme a afundar-se abaixo da linha da mediocridade enquanto
produção cinematográfica, e, por outro, revolucionam todos os conceitos do género da
ficção-científica tal como o conhecemos (ou
conhecíamos). Mas prometo falar mais sobre este aspecto amanhã ou depois, que o
post já vai longo.
Até lá... Ridley Scott? James
Cameron? John Carpenter? George Lucas? Steven Spielberg?... Ponham-se a pau. Há um puto novo a brincar com
naves espaciais às "invasões à Terra". Chama-se Peter Berg... e não
regula bem dos cornos! |