sexta-feira, abril 28, 2006
O meu umbigo (resposta aos eminentes comentaristas de ontem)

Ao abrigo da nova prerrogativa (*) aproveito, então, para elucidar o leitor acerca da predilecção pelo meu próprio umbigo que alguns eminentes comentaristas (**) referiram no meu artigo de ontem. É óbvia a razão por que tal acontece. É que o meu umbigo é dos poucos que conheço e dos quais posso, portanto, falar com propriedade. Eu bem gostaria de relatar aqui as minhas aventuras à volta de outros umbigos – como o da Merche (***), da Angelina (****), da Natalie (*****), da Scarlett (******) ou, até, da empregada da tasca onde o meu grupo do futebol de domingo de manhã vai almoçar – mas isso seria entrar pelo campo da especulação.

Queria, por fim, sossegar os leitores habituais, assegurando-lhes que, apesar da visita do Pacheco Pereira, do Santana Lopes e do Jorge Sampaio, o MpR continuará fiel aos princípios de Abril e que não deixará de ser um blogue do povo e para - espezinhar - o povo. Pelo que nunca o seu autor – lá estou eu a falar na terceira pessoa outra vez – se deixará deslumbrar por tão ilustres visitas ao ponto de se esquecer das odiosas raízes para se vender ao establishment.


(*) – Ver no post anterior onde diz: "...e uma vez que, deduzo, não estão preparados para tão sofisticada refeição, vão levar, a partir de agora, com a lavagem do costume!"

(**) – Ver caixa de comentários de ontem, ou parágrafo seguinte… o que vos der mais jeito

(***) – Romero

(****) – Jolie

(*****) – Portman

(******) – Johansson. Hum… dei-me agora conta que mais valia ter escrito o apelido logo a seguir ao nome… mas já tinha feito os asteriscos e não me apeteceu fazer tudo de novo outra vez.

posted by Raimundo @ sexta-feira, abril 28, 2006   0 e, se calhar, talvez até mais labregos passaram os olhos por isto e acharam-se qualificados para dar a opinião que ninguém lhes pediu
Perdão

Peço desculpa aos leitores do MpR. E prometo jamais voltar a escrever um post como o de ontem. A bem dizer, encontrava-me sob o efeito de drogas duras - muito duras. Mas acho que a experiência me serviu de lição. Nunca mais voltarei a escrever uma linha para este blogue depois de ter passado duas horas a snifar embalagens de detergentes com amoníaco. Não quero com isto dizer que vou largar o "Sonasol Amoniacal Limão" ou o "Cif Power Cream" - que brôa man -, mas juro-vos solenemente que não me precipitarei sobre o teclado de seguida.

Não é por uma questão de saúde, nem, muito menos, por consideração a vós. Mas por um princípio de auto-estima que me impede de continuar a alimentar de pérolas a vara. É que, pela amostra visível na caixa de comentários, ninguém percebeu a fina ironia do texto - à excepção provável de uma minoria que se escusou comentar… embora me custe a acreditar que as minorias cultas e esclarecidas venham petiscar a esta tasca.

Portanto, e uma vez que, deduzo, não estão preparados para tão sofisticada refeição, vão levar, a partir de agora, com a lavagem do costume!


Ah… e para quem, chegado a este parágrafo, ainda não se deu conta: a primeira frase do texto é uma ironia.

posted by Raimundo @ sexta-feira, abril 28, 2006   4 e, se calhar, talvez até mais labregos passaram os olhos por isto e acharam-se qualificados para dar a opinião que ninguém lhes pediu
quinta-feira, abril 27, 2006
As mulheres nunca hão-de governar o Mundo…

…e está mal. Porque acredito que o Mundo seria mais bem governado se as mulheres tomassem o poder. Fosse por comum acordo, fosse por golpe de estado.

As mulheres – e assumam, de cada vez que eu absolutizar o termo por questões práticas, que estou a falar da “maioria” das mulheres e não da totalidade – são mais hábeis a gerir do que a maior parte dos homens. Logo, haveria uma mais justa distribuição dos recursos energéticos, económicos, medicinais e alimentares pelas populações. Até porque, dentro de cada mulher há uma dona de casa, uma voluntária do Banco Alimentar, uma enfermeira da Cruz Vermelha e uma activista da PETA. Acabariam – ou, pelo menos, diminuiriam – assim, os problemas da fome e da peste à escala global. E estou certo que a vida seria bem mais simples e confortável para a humanidade e para a generalidade dos animais, com as óbvias excepções das aranhas, dos ratos e das cobras.

As guerras também teriam um fim – apesar de todas a mulheres também terem dentro de si uma destemida Joana d’Arc, mais ou menos beata. Porque elas, as mulheres, têm um instinto de sobrevivência mais aguçado que o dos companheiros. Condescendem mais. Cedem mais. Reconhecem o erro. E não se envergonham de recuar numa posição se, com isso, puderem evitar um conflito. Não é cobardia ou medo. É estratégia. Sabem que, eventualmente, mais cedo ou mais tarde, chegarão onde querem. Sem baixas. Sem fatalidades. Porque sabem que a vida é um bem dolorosamente precioso. Saiu-lhes do corpo. E têm, por isso, um sentido natural de protecção familiar – o do homem é forçado e tem a ver mais com uma questão de posse – que as impediria de enviar os filhos – os seus e os das outras – para um conflito armado que, certamente, resultaria em mortes e mutilações.

Para além disto, as mulheres – e disso já deram prova – conseguem fazer exactamente tudo o que nós fazemos. E, à excepção de mijar de pé, com a mesma perfeição ou melhor ainda. O Mundo continuaria a não ser perfeito. Mas seria, certamente, um pouco mais agradável. Mais limpinho, pelo menos. Sem meias e cuecas sujas espalhadas por toda a parte.

Então – perguntam vocês – com estas qualidades todas, porque não governam as mulheres o Mundo? O diabo me leve se sei! Mas aposto que a caixinha de comentários vai revelar muitas teorias… de mulheres que levaram a sério este post! Aliás, as mulheres levam tudo – mesmo tudo – a sério. E talvez seja por isso que nunca hão-de governar o Mundo.

posted by Raimundo @ quinta-feira, abril 27, 2006   7 e, se calhar, talvez até mais labregos passaram os olhos por isto e acharam-se qualificados para dar a opinião que ninguém lhes pediu
quinta-feira, abril 20, 2006

i´m so fuckin' bored i could die and i wouldn't give a shit



posted by Raimundo @ quinta-feira, abril 20, 2006   5 e, se calhar, talvez até mais labregos passaram os olhos por isto e acharam-se qualificados para dar a opinião que ninguém lhes pediu
sexta-feira, abril 14, 2006
Advertência

O Mundo por Raimundo adverte

Se és cristão... PÁRA

1 - O Mundo por Raimundo (doravante referido como MpR) avisa-o que está, neste preciso momento, a cometer um pecado segundo a última revisão da lista pelo Vaticano.

2 - Efectuada a advertência, o MpR não se responsabiliza por eventuais repercussões que a leitura deste blogue possa vir a ter, após a sua morte, na admissão ao Paraíso.

3 - Mais notifica o MpR que, à imagem de Pilatos, lava as mãos de qualquer responsabilidade pela sua condenação a passar a eternidade a deambular pelo Purgatório, ou, até mesmo, a alimentar as fogueiras do Mafarrico.

4 - Por isso, o MpR informa, desde já, que intentará judicialmente contra qualquer alma penada que, no futuro, assombre o blogue – ou o seu autor – sob o pretexto que a culpa foi dele.

5 - O MpR sente-se na obrigação de recomendar aos seus utilizadores cristãos a utilização do bom-senso na gestão do tempo de leitura deste blogue. E, à falta de conhecimentos profundos no assunto, aconselha uma visita ao seu padre de família para que lhe prescreva a penitência adequada – se bem que, empiricamente falando, talvez ganhe algum tempo com umas “Avé Marias” e uns “Pais Nossos”.

6 – Posto isto, o MpR passará a assumir que todos os seus utilizadores estão cientes dos factos acima referidos e, portanto, declina qualquer responsabilidade por eventual ignorância dos mesmos que possa vir a ser alegada pelos réus no seu Dia do Julgamento.

7 – Portanto, o MpR reserva-se o direito de admitir no seu espaço indivíduos de toda e qualquer religião por partir do princípio que os ditos estão conscientes de que podem ir parar ao Inferno e, mesmo assim, optam por entrar. Isto porque, aqui no MpR, se defende, entre outras coisas mais ou menos subversivas, que qualquer pessoa tem o direito de viajar para onde quer!

8 – Fiéis de todas as restantes religiões podem visitar, usar e comentar neste espaço sem qualquer tipo de consequência após a morte, uma vez que o representante do(s) vosso(s) Deus(es)/Ídolo(s)/Guia(s) na Terra ainda não tem directivas sobre este assunto.

9 – Para os que acham esta advertência de muito mau gosto por se tratar de um “atentado à liberdade religiosa” e às “crenças pessoais de cada um” e essas tretas todas… vão cagar! Ao tempo que estão a ler isto, já nem com “Salve Rainhas” se safam das fornalhas do cornudo!




Esta advertência foi, por mim, publicada originalmente no Geração Rasca


posted by Raimundo @ sexta-feira, abril 14, 2006   2 e, se calhar, talvez até mais labregos passaram os olhos por isto e acharam-se qualificados para dar a opinião que ninguém lhes pediu
quarta-feira, abril 12, 2006
Os homens, as mulheres e os supermercados

O meu amigo Oli está chateado com a falta de cavalheirismo que grassa como uma praga por este país. O rapaz, que é bom rapaz – com toda a inocência que isso pressupõe –, ficou escandalizado quando, no último domingo, num parque de estacionamento do Jumbo, assistiu à vulgar cena da mulher a transferir as compras do carrinho para o automóvel enquanto, confortavelmente sentado no banco do condutor, o marido coçava a micose sem lhe prestar o mínimo auxílio.

Oli, Oli, Oli… tss, tss… Como tão bem fizeste notar, no último domingo foi dia de futebol – como o são, pelo menos, 34 domingos por ano e, se calhar, o homem não queria ir ao supermercado... queria ir à bola com os amigos. Mas a patroa tanto o chateou que o tipo não teve outro remédio. Depois, a mulher deve ter demorado duas horas para comprar a dúzia e meia de artigos do costume... e vocês sabem como são as mulheres – a maior parte, pelo menos – nos supermercados:

Comparam preços, lêem os ingredientes, tiram, pousam, voltam a tirar, metem no carrinho, tiram do carrinho, arrependem-se e voltam a meter no carrinho, tornam a arrepender-se e voltam a tirar do carrinho. Hesitam entre a polpa de tomate clássica e a "com cebola e alho", inspeccionam todos os tipos de peixe, seguram em todas as embalagens de carne, tiram duas bananas do cacho e metem o resto numa saca. Pedem 200 gramas de fiambre "daquele… não, daquele… não, não, daquele mais atrás… esse, sim, obrigado", e outro tanto de queijo. Tiram as tampas de todos os amaciadores da roupa, cheiram-nos à vez e obrigam-nos a cheirá-los também – como se nós notássemos grandes diferenças e eles não cheirassem todos a sabão – antes de voltarem a levar o que haviam levado da última vez apesar de nós termos escolhido outro qualquer quando ela nos pediu a opinião. Não ficamos muito chateados com isso porque tínhamos escolhido “ao calhas” só para despachar a coisa, até porque já estávamos a prever que a cena se ia repetir, tal e qual, na prateleira dos desodorizantes e dos ambientadores. E, depois, com dois produtos que nos parecem ser absolutamente iguais, um em cada mão, bombardeiam-nos com aquelas perguntas clássicas: “que achas? Levamos este?... ou este?”, “Gostas mais da lasanha bolonhesa… ou com bechamel”, “da cobertura de chocolate?... ou de caramelo?”, “dos corn flakes?... ou dos choco crispies?”, “Coca-Cola ou Pepsi?”...

Estas perguntas não se destinam a auscultar a nossa opinião. Não senhor. Se ela faz compras connosco no supermercado, é porque já nos conhece há tempo suficiente para saber o que gostamos ou deixamos de gostar. Na realidade, ela não quer saber a nossa opinião. Ela já sabe o que gostamos. Não precisa perguntar. Esta bateria de questões têm o objectivo único de tentar fazer de nós cúmplices de um ritual que ela adora e que sabe que nós detestamos. Ela quer furtar-se ao peso da culpa que carrega por saber que estamos MUITO aborrecidos, tentando, pela interactividade, puxar-nos bem para o centro da acção e dando-nos a sensação – falsa – de que também fazemos parte do processo de escolha e que, afinal, somos uma “equipa”, e que nos “estamos a divertir imenso a fazer compras”. Olha que não pega num pack de cerveja barata e num de Heineken e nos pergunta qual preferimos!

Só queremos que o sofrimento acabe. E a hora do jogo aproxima-se vertiginosamente. E o carrinho ainda não está cheio. E… NÃÃÃÃÃÃÃOOO!... ela acaba de esbarrar com a prima de uma amiga de uma colega do escritório. É o pânico… elas vão passar minutos preciosos a falar de como vão as coisas, e o emprego, e os filhos, e as doenças que os pais de ambas tiveram desde a última vez que se viram no salão onde trabalha aquela cabeleireira anoréctica que as duas gostam muito e em quem o marido bate quando se droga. E nós ficamos ali, de pé, impacientes, a olhar para o relógio em desespero numa atitude em tudo idêntica à do companheiro da outra, com quem trocamos um olhar de simpatia: “Compreendo-te perfeitamente camarada, também eu queria ir ver o jogo”!

Finalmente, o tormento termina e encaminhamo-nos para a caixa. E, nesta altura, reparem bem no seu olhar triste. É idêntico ao de uma criança no final da hora do recreio, ou quando sai de um carrossel sabendo que, naquele dia, não vai dar mais nenhuma volta. Deita um último olhar às filas de prateleiras e deixa escapar um suspiro de resignação. Por ela, passaria ali o resto do dia!

Obviamente, por esta altura, já estamos para lá de furibundos. Até porque, olhamos para o que acabámos de adquirir e percebemos imediatamente que se tivéssemos ido sozinhos tínhamos comprado exactamente a mesma coisa e já teríamos ido embora há hora e meia atrás. E já estaríamos no estádio ou no café a ver o árbitro apitar para o início do desafio acompanhados por uma “loira” fresquinha. Fazemos um esforço sobre-humano para não perder a paciência. O que irá, inevitavelmente, acontecer de cada vez que ela, com o carrinho cheio de compras, abrandar a marcha à frente da Zara e da Mango e da Pull & Bear e da Springfield e do Gato Preto e… (não sei mais lojas)

Deixamo-la ficar para trás e chegamos sempre ao carro uns bons três minutos antes dela. Abrimos a mala e sentamo-nos no lugar do condutor a dizer mal da nossa sorte e a perguntar aos nossos botões a partir de quando ficámos tão mansos. Quando ela finalmente chega, o nosso primeiro pensamento não é, obviamente, “deixa-me lá ir deitar uma mão à rapariga”, mas “puta que pariu que estava a ver que nunca mais. Despacha-te mas é lá com essa porra que eu já perdi tempo demais nesta merda de supermercado e quero é ir ver a bola e beber uma cerveja ao café que já estou farto de te aturar!”

Como esta situação, com o tempo, acaba por ser nefasta para uma relação, sugiro que lhe ponham um ponto final – à situação, não à relação. Sejam francos com a vossa cara metade. Digam-lhe: “...'môr, ir às compras contigo é mais chato que um jogo do campeonato italiano. E, num dia de bola, para além de chato, é particularmente torturante. Por isso, se me prometeres que não me arrastas mais para supermercados aos domingos e às quartas-feiras europeias, eu prometo que nunca mais penso em dar-te dois tiros na mona e derreter o teu corpo com ácido na banheira e dizer aos teus pais que me abandonaste e fugiste com um tipo do circo porque eu não satisfazia o teu apetite voraz por sexo anal”!

Se isto não resultar… deixem a gaija.

posted by Raimundo @ quarta-feira, abril 12, 2006   13 e, se calhar, talvez até mais labregos passaram os olhos por isto e acharam-se qualificados para dar a opinião que ninguém lhes pediu
terça-feira, abril 11, 2006
Um homem não chora - (III Parte)
Ultrapassadas que estão as dificuldades das últimas três semanas, aqui fica o apoteótico final da saga "Um homem não chora", iniciada no dia 27 de Março e continuada no dia seguinte. Espero que o tempo de espera não tenha potenciado as vossas expectativas!



(...)

Mas nesse dia, no restaurante, o homem surpreendeu-me. Não fez nada. Nem sequer um olhar ameaçador na direcção do canalha. Limitou-se a vê-lo sair porta fora. E sentou-se à frente do prato que acabara de lhe ser servido como uma sopa a um mendigo. Com o olhar mais triste que alguma vez lhe havia visto. Não era só mágoa. Não era só humilhação. Era qualquer coisa de novo – e desconfortável – tanto para ele como para mim. Era desespero, percebi mais tarde.

Com a voz a tremer disse-me qualquer coisa que não me lembro. Acho que nem ouvi. Porque naquele momento estava completamente petrificado. À minha frente, sentado do outro lado de uma travessa com carne e batatas fritas, o mais transmontano dos transmontanos que conheço, o mais trolha dos trolhas, deitava a palma da mão aos olhos para tentar ocultar a mais improvável das heresias. E por debaixo da manápula do pedreiro vi surgir, para meu horror, uma lágrima a abrir caminho ao lado do nariz e contornar o lábio e descer o maxilar e, após um par de segundos de hesitação, deixar-se cair do queixo e precipitar-se sobre a toalha de papel.

Ficou ali. Esparramada. Evidente. À vista de todos. Pior... à minha vista. E, de repente, foi como se – passe o cliché – o mundo à minha volta e dentro de mim tivesse desabado silenciosamente. Senti os músculos fraquejarem como numa vertigem. Paralisei. E receava que se levantasse os olhos daquela mancha transparente me desse conta que estava a precipitar-me num vortex allanpoeneano. E nunca senti tanto medo como quando a sua mão subiu para a cabeça, revelando uns olhos húmidos e vermelhos. Não de raiva, como estava mais acostumado, mas de qualquer outra coisa que eu desconhecia e, portanto, temia. E nunca, até então, tiveram um tão grande pretexto para chorar.

O medo, porém, tem destas coisas. Transforma-nos em seres que não éramos antes. Em algo que ao longo da nossa existência até ao preciso momento em que o sentimos nunca houvéramos pensado em transformar-nos. Transfigura-nos. Torna-nos em criaturas sobrenaturais. Com poderes sobre-humanos. E no momento de maior terror que alguma vez houvera presenciado, na mais triste e miserável circunstância… não chorei. A crueldade do momento foi tão cauterizante que selou a nascente. Nem uma lágrima. Nem um soluço. Nenhuma reacção. Nada. Nem no restaurante. Nem no caminho para casa. Nem na privacidade dessa noite. Nem das noites nem dos dias que se seguiram durante as semanas, os meses, os anos que vieram... Nunca mais.

De um momento para o outro percebi que, afinal, o super-homem que me protegia dos vilões deste mundo não era invulnerável. Que o meu John Wayne da colher e da talocha não “disparava” assim tão rápido. E compreendi, exactamente naquele instante, que o meu pai era, enfim, apenas um homem. E que, como outro qualquer, tinha fraquezas constrangedoras. E que a muralha que eu, até aí, via nele, era a única coisa que me permitia o luxo de chorar por tudo e por nada nesse meu mundinho seguro. A muralha desabou às mãos de um simples e ignorante empreiteiro. E a minha ingenuidade tombou com ela.

O meu velho limpou os olhos e, com um improvável sorriso de resignação, disse para, pelo menos, aproveitar o almoço. Nunca um pedaço de carne me custara tanto a engolir. Nunca o silêncio à mesa me incomodou tanto. Durante tanto tempo.

Amaldiçoei o Redol do “Constantino das vacas” e a sua hipócrita presunção. Um homem não chora?!... o catano! Um homem chora quando não lhe resta mais nada. Quando esgota as soluções. Quando a única esperança é o milagre. Um homem chora quando tem que chorar. E se até agora não mais chorei – salvo uma excepção mesmo muito excepcional – não me considero mais ou melhor homem do que se o houvera feito. Acusam-me os que me conhecem melhor de cínico e insensível. De frio e distante. Mas por muito que me agrade a avaliação, esta também não é verdadeira. Acontece, simplesmente, que aquele incidente elevou a fasquia da minha sensibilidade. Não a perdi… só não esperem que me emocione com os patéticos revezes da vossa infeliz existência. Pois isso é tão improvável como alguém verter uma lágrima pelas desventuras do Oliver Twist dois dias depois de ler as Vinhas da Ira.

Não me macem com as vossas desgraças… eu já não quero saber!

posted by Raimundo @ terça-feira, abril 11, 2006   0 e, se calhar, talvez até mais labregos passaram os olhos por isto e acharam-se qualificados para dar a opinião que ninguém lhes pediu
segunda-feira, abril 10, 2006


Estamos mesmo, mesmo, mesmo quase a vir. É só mais um bocadinho!

Obrigado...

A gerência
posted by Raimundo @ segunda-feira, abril 10, 2006   0 e, se calhar, talvez até mais labregos passaram os olhos por isto e acharam-se qualificados para dar a opinião que ninguém lhes pediu
 


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Blog aberto a fumadores. E não... não temos as dimensões estipuladas por lei para poder ter um espaço para fumadores. E como estamos num país de chibos, já estou mesmo a ver: um dia destes há uma denúncia anónima e aparecem-me aí uns estupores da ASAE para fechar o tasco!

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