sábado, dezembro 31, 2005
As passas… o raio das passas!...

Não há coisa mais patética que a imagem de um grupo de pessoas reunidas à volta de uma mesa às 23:59 do dia 31 de Dezembro de copo de espumante numa mão e doze passas na outra a contar os últimos 10 segundos do ano por ordem decrescente ao ritmo de um locutor de TV que, mais tarde ou mais cedo, há-de ser acusado de pedofilia.

Quer dizer… haver até há – basta lembrar que os sportinguistas ainda hoje se queixam do golo do Luisão na penúltima jornada da última época –, mas a abertura do texto funciona melhor se absolutizar a questão.

Enfim... E o mais ridículo disto tudo nem é o passar um minuto com aquela merda pegajosa nas mãos, é o facto de o pessoal entrar no ano seguinte a mastigar de boca cheia, com a saliva a sair pelos cantos da boca e a grainha a meter-se entre os dentes. É nojento.

Não faz sentido! É nojento e não faz sentido! Será que alguém está mesmo convencido, qualquer que seja o seu credo ou convicção, da relação directa entre o consumo das passas e a satisfação do desejo? Quer dizer… se não comer a passa o desejo já não se realiza? Aliás… já alguém viu cumprido o seu desejo de passagem de ano? E há alguma técnica para executar este ancestral ritual? Sei lá… tem que se comer uma a uma? Só se mete a seguinte à boca depois de engolir a anterior? Vai tudo de uma vez? Quê? Expliquem-me que isto ultrapassa-me. E já agora… a quantos desejos tem uma pessoa direito? Só um?... Doze?... E é mesmo muito grave se o pessoal se enganar a contar e só tiver onze passas? Ou treze? Será que pode comer uma mais tarde para compensar?... ou vomitá-la? E se não houver passas para toda a gente?... salgadinhos… pode ser com salgadinhos? Tem que ser mesmo com passas?... não pode ser com salgadinhos? E tem que ser mesmo à meia-noite? Não pode ser uns cinco minutos mais cedo que é para o pessoal poder celebrar em paz o momento exacto da passagem sem a pressão de ter que meter aquela bosta à boca? E não é suposto o pessoal cumprimentar a pessoa mais próxima logo que a contagem chega a zero? Como é que se pode dar um beijo com a boca cheia de passas? Eu sei que é possível… mas será que o queremos fazer?... ou melhor… será que queremos ser beijados por alguém com pedaços de uva seca a sair pelos cantos da boca?

É das tradições mais labregas à face da Terra… o que diz muito da nossa evolução enquanto seres culturais.

E depois há a questão dos desejos. Os primeiros dois são fáceis de adivinhar: seis milhões pedem mais um campeonato nacional para o Benfica. Os restantes quatro milhões pedem para o Benfica não ganhar nada. A seguir… todos pedem o Euromilhões! Depois costuma vir o carro desportivo, seguido de uma casa, e de uma cadeira vibratória. Lá para o fim, quando já não nos lembramos de mais nada vem o termo da guerra no Iraque e da fome em África – que é sempre um desejo oportuno quando se tem tanta comida na boca que mal se consegue respirar!

Este ano até há uma variação: “Uma passa pela Taça”… uma espécie de campanha de apoio místico à Selecção Nacional que disputa o Mundial de Futebol em Junho. Curiosamente o mote foi dado pela Galp. Uma gasolineira cujos responsáveis desejam com as doze passas que, por essa altura, já seja metade italiana, e que, no exacto momento em que pedem aos portugueses o sacrifício de abdicarem de um dos seus desejos em favor dessa causa, lhes está a aumentar os combustíveis e o gás em 3,5 por cento. É preciso ter uma lata…

Eu também vou festejar a entrada no novo ano. Mas sem pseudo-tradições rústicas alimentadas por produtores de uvas que não servem para vinho de jeito, sem desejos humildes ou megalómanos e, sobretudo, sem frutos secos. Mas talvez até celebre com umas passas…

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sexta-feira, dezembro 30, 2005
General Raimundo - Ode à ascensão e queda das Legiões Negras
O Grande General Raimundo
Partiu no seu negro alazão
Sem medo à conquista do Mundo.

Partiu decidido a espalhar
Desde o negro coração d'África
O terror e o caos Além-mar

De coração negro
e mais negra tês,
Conquistou toda a África
Em menos de um mês

Mas depois vacilou,
E das portas da Europa
Já não passou,
Porque Macho Santos,
O general de duas faces,
O atraiçoou

Virou-se depois
Para o oriente médio
Onde Moura do Nuorte
O matava de tédio

Não matava nem morria
Povoava às resmas
Porque controlava a Oceânia

E com Fêmea Santos conspirava
Para o Grande Raimundo derrubar.
Mas a Santa foi atacada pela peste
E teve que se retirar.

Quem ficou contente foi Macho Santos
Que toda a Europa herdou,
Mas foi guloso e foi falso
E seu Império desmoronou.

Viveu da clemência e piedade
Da Moura do Sule e do Grande Raimundo
General a quem se rendeu
Depois de ter batido no fundo.

As Mouras, então, aliaram-se
Para o Lendário soldado bater
Mas as tropas de negro vestidas
Eram excelentes a defender

Mesmo em número menor
Legiões amarelas rebateu
E ao fim de mítica batalha
O Congo finalmente era seu

E Moura do Sule que tinha
O maior exército da Terra
Avançou sem medo e sem estrutura
E perdeu dois terços na Guerra

E Raimundo recuperou
E a Africa reconsquistou
Pela Europa se estendeu
E no Brasil se intrometeu

Mas eram já tantas as batalhas
Que Raimundo se cansou.
E depois de ver a destruição que semeara
O Grande General reconsiderou.

Tréguas às suas tropas ordenou
Porque as fronteiras excediam o poder
Eram mais as terras que os homens
Tantas que já não se podiam defender.

E na promoção da paz
Do poder abdicou
Para poupar vidas aos seus
O comando abandonou

Acabou Moura do Nuorte
Por dominar todo o Mundo
Não por heroísmo ou sorte
Mas pela dó de Raimundo

E esta é a epopeia da noite
Em que cinco generais sem prantos
Se reuniram para jogar Risco
No chão da sala dos Santos!
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quinta-feira, dezembro 29, 2005
Raimundo Profundo
A vida do homem é uma curta distância entre dois pontos temporais na quase infinita existência do universo. Escolher o caminho mais longo e difícil até pode revelar integridade, mas, bem vistas as coisas, não deixa de ser uma grande estupidez!
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terça-feira, dezembro 27, 2005
Contando os pares de meias...

O Natal acabou… Louvado seja o Senhor!

Acabou o cheiro a bacalhau com couve cozida, bacalhau assado, bolinhos de bacalhau… E, por um ano, não mais vou ter que gramar com rabanadas e filhozes. Nem com arroz de polvo. Nem com Bolo Rei com aqueles ingredientes fluorescentes que o pessoal acredita que já foram fruta outrora. Nem com vinho espumante italiano a imitar champanhe francês comprado em promoção num supermercado alemão.

Acabou o corrupio de familiares que já não via desde o último Natal. Acabaram os comentários senis da tia Maria, para quem todos os anos cresci sempre mais um bocadinho, estou sempre muito diferente e já pareço um homem. Não mais terei que responder com um sorriso hipócrita às piadas do tio Zé sobre o meu cabelo comprido, a minha barba por fazer, de como pareço um drogado e de como só me falta o brinco no nariz. Apetece-me dizer “tu lá sabes… o teu filho é que está numa clínica de desintoxicação”! Mas… é Natal. E deixo-me arrastar pela onda de fingimento geral e cinismo disfarçado como manda a natalícia tradição. E torno-me num deles. Um zombie a cuspir frases feitas e a responder com gargalhadas a comentários desprovidos de qualquer tipo de piada.

Terminaram, por fim, os constrangedores momentos à volta da lareira em que temos que responder como nos está a correr o emprego… por que não vamos trabalhar para o banco onde já está o primo… por que não estamos ainda casados… por que ainda não trocámos o carro tal como o primo que trabalha no tal banco onde nós deveríamos estar a definhar também… por que não visitamos mais a família…

O Natal acabou… Louvado seja o Senhor!

Agora é tempo para retemperar forças… para avaliar os estragos… para contar os pares de meias. E para esvaziar as caixas dos “ferreros rochés” e dos “mon cherries” antes que venha o calor e eles percam as propriedades que fazem deles únicos. É tempo de sentar no sofá, beber uma cerveja, ver um filme violento e ouvir um disco hard-core para purgar o organismo do “cinema Pai Natal” e dos cantos gregorianos e da Nana Mouskouri.

Acabou… e agora tenho mais um ano para me preparar para nova investida familiar. Porque, pelo próximo Natal, continuarei a fazer o que gosto apesar de pagar pouco. Continuarei a desprezar o labrego do primo que trabalha no banco onde todos querem que eu vá trabalhar. E continuarei a ter relações sexuais com uma rapariga com quem nunca vou casar no banco traseiro do meu carro que está velho demais para aguentar duas viagens de 200 quilómetros para visitar a família. A família… O diabo que os carregue… até ao próximo Natal!

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sábado, dezembro 24, 2005
As minhas luzinhas já não piscam!
Todos os anos... todos os santos e miseráveis anos, por esta altura, me acontece o mesmo. Natal após Natal digo a mim mesmo que “aprendi a lição”, que “não vai voltar a acontecer”, que “para o ano é que já não me apanham”. Mas com o aproximar da quadra a minha determinação esvai-se ao avistar da primeira caixinha com luzinhas coloridas.

Esta tem 18 metros de extensão. Aquela tem 50. A outra dá para exteriores e interiores. A seguinte têm lâmpadas maiores. Lá mais à frente há umas dentro de uma mangueira muito pouco maleável. Na prateleira do lado estão umas com formas de renas, de Pai Natal, de estrelinha. Olha... lá na ponta estão umas com quinhentos e tal leds.
Nenhuma destas me interessa. Nenhuma destas me satisfaz. Eu quero mesmo umas iguais àquelas que tinha em criança. Pequeninas, de várias cores e... que pisquem. Sobretudo, que pisquem! Este é o critério primeiro da minha escolha. Depois vêm os outros.

Ora, as minhas lâmpadas preferidas são mesmo as mais ranhosas e fatelas da família das iluminações de Natal. Daquelas que se emaranham completamente antes de serem colocadas à volta da árvore. São também – coincidentemente ou talvez não – as mais baratas do mercado. Aliás, quase só se encontram em lojas dos 300 e estabelecimentos chineses. “Pois então... é aí mesmo que eu vou”.

Não preciso de procurar muito. Logo na primeira fila de prateleiras, entre as bolinhas metalizadas e as fitas brilhantes lá estão elas... as minhas lâmpadas. Acondicionadas dentro de uma singela caixa de cartão – também a mais ranhosa e fatela caixa da família das embalagens – que explica numa frase repetida em cinco línguas que se trata de um conjunto de 140 lâmpadas coloridas que piscam. “Óptimo... os critérios estão todos cumpridos”!

Peço a senhora da caixa se as pode ligar à corrente... “só para confirmar que estão a piscar”. E a senhora liga-as. E elas piscam.

Contente da vida, apresso-me para casa. Tenho que ligar a iluminação. Quero ver a minha árvore a piscar e as bolinhas vermelhas e amarelas e verdes a reflectirem intermitentemente distorções de cor na minha sala escura. Ligo a tomada.

E as luzinhas piscam. E é um espectáculo maravilhoso que me transporta no tempo. De repente tenho seis anos e estou na minha aldeia natal sentado de cócoras, hipnotizado por um presépio feito com um pinheiro verdadeiro e lodo que a minha mãe me ensinou a arrancar da pedra em grandes pedaços. De repente vêm-me à memória o par de pistolas de “cóboi”, com coldre e tudo, e a estrela de “xerife” que o “Menino Jesus” me deixou no primeiro Natal de que me lembro. E lá fora cai neve sobre a neve dos dias anteriores. E pela janela vejo as luzinhas de Natal da casa do Luís e do Alex a acenderem e a apagarem e a acenderem outra vez. E da cozinha vem um cheiro a rabanadas com canela e a bolinhos de bacalhau e a vinho tratado. E na televisão a preto e branco está a dar um filme de vikings com o Kirk Douglas e o Michael Curtis. E a minha mãe chama para jantar. E eu digo que já vou. Mas continuo hipnotizado em frente ao pinheiro reluzente. E ela volta a chamar para a mesa. Uma. Duas. Três vezes. E o meu pai espreita pela porta da sala. “Então rapaz... como é? Tenho que te ir aí buscar?... O meu pai tem o condão de acabar com o feitiço. Ao meu pai não se diz “já vou”... diz-se “’tou a ir”.

A viagem no tempo termina. Não quero gastar tudo numa noite só. Para amanhã deixo as visitas a casa da minha madrinha, que tinha sempre três pares de meias e 20 escudos para me dar. Ou da minha avó (três pares de meias e 10 escudos). Ou do meu tio Tó (presunto com orelhas de abade e vinho tratado com mais de 20 anos). Como eu gostava de ir a casa do tio tó. Mas essa vou deixar para o fim... mesmo para o dia de consoada!

Mas não vai haver amanhã. Nem, muito menos, dia de consoada. Porque aconteceu uma catástrofe. Ocorreu o pior que podia ocorrer: as minhas luzinhas deixaram de piscar e perderam a capacidade de abrir o portal espacio-temporal que me transportava à infância.

As minhas luzinhas já não piscam. Amanhã um chinês vai morrer!
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sexta-feira, dezembro 23, 2005
Skippy, o cão da pradaria (II Parte)

Basicamente, os elementos do clã ignoravam-no. Ele andava por ali a arrastar a sua cauda castanha, cabisbaixo. Os outros olhavam-no de soslaio… desconfiados. Comia as migalhas que os outros deixavam para trás – ou qualquer outra coisa que encontrava casualmente – porque nunca fora grande coisa a procurar comida. Os de cauda preta juntavam-se às vezes perto do monte de bolotas e pinhas e nozes. Pareciam falar uns com os outros e sempre que Skippy se aproximava era achincalhado com latidos estridentes e ameaçadores.

Até que Skippy decide fazer aquilo que fazia melhor e, numa bela manhã, sai da toca que construiu sozinho e coloca-se de sentinela numa das extremidades da cidade (é mesmo este o termo que os zoólogos chamam ao aglomerado de tocas). As semanas foram passando sem que a relação entre o nosso rapaz de cauda castanha e o clã de caudas pretas tenha tido qualquer melhoria assinalável. Até que um dia…

Um dia, uma cobra malvada e com muito mau aspecto aproxima-se da cidade. O Skippy topou a meliante e desata aos guinchos e aos saltos para avisar o pessoal (é assim que eles avisam o pessoal… aos guinchos e aos saltos). E depois, claro está… desata a correr à procura de um sítio seguro, tal como todos os outros. Para trás ficou uma cadela da pradaria com uma ninhada de pequenos cãezinhos da pradaria que não conseguiam fugir para lado nenhum. O destino deles estava traçado. Dentro de minutos seriam comida de cobra. Mas, do seu esconderijo, o nosso Skippy apercebeu-se da situação e não esteve com meias medidas. Sai a correr, mete-se em cima de uma pedra e começa a chamar a atenção do réptil mesmo à sua frente. Guinchou, saltou, agitou-se todo, dançou a macarena… Não sei o que passou pela cabeça da serpente. O certo é que a pérfida criatura, ao fim de alguns segundos de estupefacção, dá meia volta e desaparece.

Aos poucos, os cães foram-se juntando outra vez, como quem faz o balanço dos estragos depois de uma catástrofe. E o nosso herói afastou-se para a sua toca sem sequer olhar para trás… Assim tipo à Clint Esatwood. Mas algo havia mudado no seio do clã de caudas pretas. Os indivíduos olhavam uns para os outros até que três deles saíram do grupo e foram directamente à toca do Skippy. O bicho de rabo castanho vem cá fora, e após mais uns latidos e guinchos e saltinhos e empurrões amigáveis trouxeram-no para o meio dos outros. A partir desse dia, o Skippy passou a ser tratado tal e qual como um “cauda preta”. Com direitos e deveres dentro da comunidade.

Mas se já espanta o comportamento integracionista nestes animais, que dizer do seguinte, também documentado pelos investigadores do Discovery: Os cães da pradaria de cauda castanha são, por natureza, mais extrovertidos que os seus familiares de cauda preta. São mais brincalhões e travessos, ao passo que os segundos são mais “sérios” e “rotineiros”. Ao “adoptarem” o Skippy, os caudas pretas aprenderam coisas novas. Alguns dias depois, os outros já imitavam as suas brincadeiras, sem, contudo, descurarem os seus deveres.

Resumindo: a chegada de Skippy ao clã, para além de providencial, proporcionou uma troca de experiências que se revelou benéfica para ambos, e um considerável salto evolutivo naquela sociedade que, de outra forma, nunca teria acontecido.

A história destes cães da pradaria é verídica e termina aqui. Moral?... parece-me ser bem explícita. Mas, de qualquer modo, deixem-me dar-vos uma dica na forma de questões: Como é que nós, enquanto membros de uma comunidade, tratamos os nossos Skippies? Como é que olhamos para eles mesmo depois de eles terem afugentado as serpentes? Como é que nos relacionamos com eles mesmo depois de nos ensinarem a dar cambalhotas novas? Acolhemo-los na nossa “cidade” e repartimos a nozes com eles, ou continuamos a olhar de soslaio para as suas caudas castanhas?

Os cães da pradaria do Midwest americano já aprenderam. E nós?

posted by Raimundo @ sexta-feira, dezembro 23, 2005   1 e, se calhar, talvez até mais labregos passaram os olhos por isto e acharam-se qualificados para dar a opinião que ninguém lhes pediu
quinta-feira, dezembro 22, 2005
Skippy, o cão da pradaria (I Parte)
Skippy era um americano. Não um cidadão no verdadeiro sentido da palavra. Mas, ainda assim, um americano. Na verdade, era um cão da pradaria. E, com certeza, este não seria o seu verdadeiro nome. Mas foi o que a equipa de reportagem do Discovery Channel lhe pôs num documentário sobre a vida selvagem no Midwest dos EUA.

Antes de contar o resto da história de Skippy convém elucidar o leitor sobre alguns factos acerca dos cães da pradaria. Em primeiro, começar por dizer que estes animais vivem em comunidades que chegam a atingir os 35 indivíduos. Acrescentar ainda vivem em sociedades hierárquica e socialmente organizadas. Cada elemento do grupo tem funções específicas nas quais se especializam, como se fossem profissões (sentinelas, forrageiros, escavadores). Para além disso, são extremamente solidários com os da sua comunidade, mas bastante desconfiados dos outros que, mesmo sendo da sua espécie, pertencem a outro clã – faz-te lembrar alguma coisa Post_it?.

Uma comunidade vive numa área relativamente pequena. E embora cada indivíduo tenha a sua própria toca, ajudam-se mutuamente na sua escavação. Aliás, não podia ser de outro modo porque, enquanto uns estão a “construir a casa”, outros estão de sentinela para avisar sobre potenciais predadores (que da cobras às águias, passando pelos coiotes e pelos linces, não são poucos) e outros andam à procura de comida para toda a gente. Quando várias fêmeas dão à luz, as crias são amamentadas às vez por uma delas, enquanto as outras se juntam ao grupo dos forrageiros. Quando um predador é avistado, a solução é correr o mais depressa possível e procurar um esconderijo, mas se um estiver a ser ameaçado, os outros criam uma manobra de diversão para dar uma oportunidade ao companheiro para fugir.

E, embora para a história não signifique muito, aqui ficam mais dois dados curiosos acerca destes bichos de 30 centímetros:
1 – São brilhantes “engenheiros civis”. Constroem as suas tocas de modo a prevenir cheias. Fazem uma saída de emergência para fugir aos predadores rastejantes, para além de vários compartimentos de armazenagem de alimentos, e para dormir.
2 – Acredita-se que, a seguir ao homem, os cães da pradaria tenham o mais complexo sistema de comunicação verbal, já que emitem uma infinidade de sons diferentes consoante o companheiro a quem se dirigem, o predador que avistam, ou a comida que encontram… entre outras situações.

A seguir ao homem, não me ocorre outra sociedade tão bem organizada. E, embora por instinto, a sua dedicação à preservação da comunidade não deixa de ser notável.

Voltamos agora ao Skippy. O dito, um cão da pradaria de cauda castanha, vivia feliz e contente como sentinela do seu clã. Até ao malfadado dia em que a sua comunidade de cerca de 10 indivíduos foi atacada por três coiotes (coisa estranha porque estes até caçam sozinhos). Foi um massacre, e quando a matança começou, só o Skippy escapou.

Sobreviveu sozinho durante alguns dias, ao fim dos quais se deparou com um outro clã de cães da pradaria. Só, cheio de fome e de medo, Skippy tentou aproximar-se. Os outros, que eram cães da pradaria de cauda preta (só a cauda é que é diferente, porque de resto são iguaizinhos), obviamente repeliram-no. Primeiro com ameaças verbais, que depressa passaram a físicas quando ele tentou uma e outra vez entrar no grupo.

(Por questões que se prendem com a incapacidade de síntese do autor, a história, tal qual uma grande produção da BBC sobre a vida de um personagem famoso qualquer, foi dividida em duas partes para não massar o leitor. Não perca amanhã, à mesma hora, num blog perto de si... a segunda parte da história de Skippy, o cão da pradaria)

posted by Raimundo @ quinta-feira, dezembro 22, 2005   0 e, se calhar, talvez até mais labregos passaram os olhos por isto e acharam-se qualificados para dar a opinião que ninguém lhes pediu
terça-feira, dezembro 20, 2005
Dona Esmeralda morreu... viva Dona Esmeralda

Dona Esmeralda morreu ontem. Os médicos declararam-na oficialmente morta às 14:34 horas. Eu recebi a notícia de um familiar na minha terra natal quase à hora do jantar. Perdi o apetite. Não como desde então. A Dona Esmeralda morreu… e com ela parte de mim, e de todos os que a conheceram naquela aldeia de Trás-os-Montes.

A Dona Esmeralda morreu. Hoje o meu cinismo habitual está de luto. Não consigo articular um pensamento corrosivo. Não consigo pensar. Não consigo…

A notícia da morte não foi propriamente um choque. Ela estava ligada às máquinas há quase dois anos e todos esperávamos a notícia mais tarde ou mais cedo. Mas alimentávamos a esperança de que sobrevivesse, pelo menos, mais um Natal.

Dona Esmeralda tinha mais de cem anos e tocou a vida de todos os habitantes da aldeia, de uma forma ou de outra. Durante mais de 80 anos, enquanto as suas pernas o permitiram, Esmeralda trabalhou as terras de toda a gente naquela pequena comunidade. Não havia vinha, lameiro ou olival que ela não conhecesse. Não havia nos arredores trilho e atalho que não tivesse calcorreado quase diariamente, carregada de lenha ou de fetos para forrar os currais da aldeia. E durante anos era ela que dava o leite para os pequenos almoços das crianças da escola primária. Ainda antes de o Governo ter instituído essa medida a nível nacional.

Dona Esmeralda já não tinha família. Chegou à aldeia em 1907, ainda quase criança, fugida de uma quinta do Douro onde era maltratada e violentada por um capataz sem escrúpulos. A Casa do Povo acolheu-a e ela retribuiu com uma gratidão absoluta até a doença e a velhice lhe tirarem a lucidez e a força. Teve apenas um companheiro. Foi nos anos 40. Engravidou-a duas vezes e desapareceu em vésperas de S. João. Dizem que foi a servir num casamento cigano. E nunca ninguém mais soube dele. Nem quiseram saber, porque, dizem, “era de má rês”! O filho foi enviado para a guerra colonial nos anos 60. Dizem que foi apanhado pelo inimigo. Dizem que o mataram a sangue frio a golpes de catana. Que o esquartejaram e que o comeram. A filha morreu há uns dez anos com uma doença mental que a fez viver em agonia os últimos meses da vida. Dona Esmeralda estava só.

Contava o meu falecido avô que quando era criança ela tinha salvo um miúdo da idade dele de morrer afogado na Arruda, onde o rio faz remoinhos. Na minha memória fica a imensidão do seu ser. Esmeralda tinha quase um metro e oitenta de altura. E, quando eu era criança, achava que ninguém conseguia crescer mais do que aquilo. Quando eu nasci já ela era velhinha. Já não podia tanto como dantes. Já só trazia meia dúzia de molhos de vides dos Sumagrais. Mas ainda me lembro de andar às suas cavalitas, empoleirado nos seus ombros. E como o mundo parecia pequeno lá de cima.

Ao logo de uma vida dedicada à comunidade, a aldeia soube reconhecer a sua importância. No Natal era a figura mais popular dos “Presépios Vivos”, e no S. Pedro era ela quem abria a procissão, à frente do palio do pároco, com duas grandes medalhas de ouro à volta do pescoço.

Dona Esmeralda morreu. Agora a única coisa que resta para prolongar a sua memória é uma estátua à entrada da aldeia que a Junta de Freguesia mandou construir para a homenagear pelo seu 100 aniversário há quase cinco anos atrás. Uma peça maciça de granito, encomendada a um escultor de Zamora. E onde, por debaixo de uma pose epicamente orgulhosa, se pode ler:

“PELOS SEUS 100 ANOS, A JUNTA DE FREGUESIA HOMENAGEIA DONA ESMERALDA, VACA COMUNITÁRIA DA CASA DO POVO DESDE 1907, E DETENTORA DE DOIS RECORDES DO GUINESS PARA O MAIS IDOSO E O MAIS ALTO BOVINO DO MUNDO.”

Dona Esmeralda morreu. E, com ela, a última réstea de humanidade no meu coração.

posted by Raimundo @ terça-feira, dezembro 20, 2005   1 e, se calhar, talvez até mais labregos passaram os olhos por isto e acharam-se qualificados para dar a opinião que ninguém lhes pediu
segunda-feira, dezembro 19, 2005
Que felicidade... é segunda-feira!

As segundas-feiras são um dia maravilhoso para um sociopata como eu. Anda tudo mal disposto. Os empregados têm que voltar ao trabalho. Os desempregados continuam sem emprego. Os Benfiquistas andam lixados porque o Sporting ganhou. Os sportinguistas estão putos da vida porque os lampiões venceram com mais um golo irregular. Os portistas ganharam mas continuam chateados porque ninguém lhes presta muita atenção apesar de andarem em primeiro. Os funcionários públicos lamentam não ser feriado na terça para poderem fazer ponte – apesar de isso não ser pré-requisito para o fazer.

Às segundas-feiras, a maior parte dos talhos não têm carne fresca, o que significa que vai haver muita mulherzinha a levar na tromba porque o trolha chegou a casa e não quer comer o peixe. Os miúdos voltam a ter que carregar mochilas empanturradas de livros e cadernos e estojos porque os pais estão ambos a trabalhar e mandam-nos para ATL’s porque não os querem deixar sozinhos em casa nas férias de Natal. E os outros que pensavam ter mais sorte estão ainda mais danados porque os progenitores os fazem acordar uma hora mais cedo que o habitual para os deixarem em casa dos babosos dos avós que os obrigam a lanchar bolachas Maria ou sortidos bolorentos da Triunfo com chá de cidreira.

Às segundas-feiras os transportes públicos chegam à mesma hora dos outros dias. Cheiram tão mal como na sexta, e vão mulheres grávidas agarradas ao varão enquanto uma universitária sentada deita os olhos ao catálogo da Redoute. E não há um nevão, uma cheia, a queda de um viaduto, um acidente entre dois pesados que transportavam materiais explosivos na marginal, a queda de um meteorito… qualquer coisa que impeça o autocarro de chegar a tempo ao emprego ou à escola. E os trabalhos de casa não estão feitos. Até o humor dos taxistas piora porque, claro, o Sporting ganhou… e não há taxista que não seja benfiquista. Resta-lhes a consolação de o seu clube ter ganho com um golo irregular: “Os lagartos devem estar putos da vida!”

Às segundas-feiras os telejornais da tarde voltam a falar do Governo e de como o primeiro-ministro não vai aumentar os salários de alguém. Volta a haver fome na Etiópia e soldados americanos mortos no Iraque. E ainda está um cargueiro preso ao largo de uma das ilhas dos Açores e o Alberto João ainda manda na Madeira. E nunca mais dão as repetições dos jogos de fim-de-semana para os benfiquistas verem o Sporting a ganhar e os sportinguistas explicarem em cada repetição a falta do Luisão sobre o guarda-redes do Nacional enquanto os portistas desesperam pelas imagens do seu clube que só chegam depois das do Braga, do Setúbal, do Guimarães, e do Gil Vicente.

Às segundas o patrão está mais insuportável que o costume porque os sogros apareceram lá por casa. Logo no fim-de-semana em que ele tinha planeado deixar a mulher no clube de campo com as amigas do bridge para ir ter com a amante de 25 anos a um motel em Alcochete. A senhora da cafetaria demora uma eternidade a trazer o croissant e o galão porque não pára de comentar com a mulher da limpeza a vida da secretária loira e boazona que está mais sensível e frígida que o habitual porque tinha planeado fazer compras no Freeport com o cartão de crédito do director a troco de uma mísera cambalhota mas o tipo não apareceu: “Será que anda metido com a estagiária?... hoje o café vai com sal!”

Enfim… as segundas-feiras são dias absolutamente fantásticos. É o único dia em que me sinto em perfeita sintonia com o mundo. Isto… apesar de o Sporting ter ganho!...


PS: Eu bem avisei na sexta-feira... O Covilhã perdeu na Vila das Aves e o treinador queixa-se que o árbitro (Lucílio Baptista) lhe anulou um golo limpo e foi exagerado na expulsão de um seu jogador, entre outras situações. Não sei se é verdade ou não... mas que é curioso a Liga ter nomeado o seu, alegadamente, melhor árbitro para um jogo de segundo plano... lá isso é!

posted by Raimundo @ segunda-feira, dezembro 19, 2005   0 e, se calhar, talvez até mais labregos passaram os olhos por isto e acharam-se qualificados para dar a opinião que ninguém lhes pediu
sábado, dezembro 17, 2005
Os nossos imigrantes são uma seca

Para quem não sabe, celebra-se amanhã o Dia Internacional do Migrante. Pessoalmente não vejo qual é a necessidade de haver um Dia Internacional do Migrante, como também não vejo qual o objectivo de um Dia Internacional da Mulher, ou do Doente, ou do Não-Fumador, ou do Caminheiro de Fátima, ou do Adepto do FCP, ou de qualquer outra franja minoritária e de influência incipiente na sociedade dos homens. Aliás, não vejo qualquer propósito em nenhum dia Internacional seja ele dedicado a quem quer que seja. Mas prontos... a ONU inventa-os e o resto do pessoal celebra-os com o entusiasmo de um Natal dos Hospitais. Afinal é só um dia. E o ano tem mais 364...

Adiante. Mas o Dia Internacional do Migrante está aí e é preciso assinalá-lo. Eu apostava na cena das bandeiras nas janelas… por sinal, inventada pelo imigrante mais odiado do País, que por acaso até é Seleccionador Nacional. Não é original, mas resulta sempre. Depois haveria uma concentração/convívio no Parque das Nações: Os cabo-verdianos traziam a ketchupa, os de Leste o vodka, e os brasileiros as mulheres, as irmãs, as primas e as amigas… porque não há brasileira de “deitar fora”… ok… há a Maria Betânia… Mas de resto está tudo aprovado!

A questão que se põe é: Mas será que os nossos imigrantes merecem uma festa destas? A resposta é simples: NÃO.

Senão vejamos… o que é que os imigrantes em Portugal, legais ou nem por isso, já fizeram pelo País? De que modo é que eles contribuíram para o reconhecimento de Portugal no estrangeiro? Que acções já levaram a cabo para levar mais longe o nome do país que os acolheu?

As respostas são repetitivas: Nada! Nenhum! Nenhumas!

Em França, na Alemanha e até na Holanda, os imigrantes deles assaltaram esquadras, bateram em polícias, incendiaram 1000 carros por noite, saquearam lojas no valor de mais de 10 milhões de euros, obrigaram o Governo a instituir o recolher obrigatório, levaram companhias de seguros à ruína… e, durante mais de um mês, atiraram com os seus países adoptivos para as primeiras páginas dos jornais de todo o Mundo. Durante muito tempo, só se ouvia falar de França, da Alemanha e da Holanda em todos os canais de televisão do planeta. Publicidade é o que é!

Então e os nossos?... Andam a dormir?... nem um carrinho incendiado… nem um… nem um daqueles “papa-reformas” que nem precisam de carta… Inaceitável! Mas prontos… cada país tem os imigrantes que merece!

A verdade, meus senhores, é que os nossos emigrantes são uma grande seca. Tá bem… de vez em quando fazem um “pseudo-arrastão”, assaltam um comboio suburbano, fanam uns auto-rádios, palmam uma gasolineira… mas isso NÃO CHEGA!!!

Ainda fiquei com algumas esperanças quando ouvi falar daquele gang do Algarve que fazia assaltos em série e que acabou por, tragicamente, assassinar um agente da lei. Mas vai-se a ver e eram dois portugueses e um espanhol… Foi uma decepção!

Portanto, lanço daqui um apelo: Enquanto os nossos imigrantes não se comportarem como os dos outros países e contribuam de forma decisiva para o reconhecimento do País lá fora com, pelo menos, um motim de cocktails molotov na Avenida da Liberdade… ou no estádio do Dragão, não há festas nem celebrações para ninguém. Aliás, se não estão cá para isso, estão cá para quê?... Trabalhar?... Bah… para isso já temos crianças em Felgueiras.

posted by Raimundo @ sábado, dezembro 17, 2005   3 e, se calhar, talvez até mais labregos passaram os olhos por isto e acharam-se qualificados para dar a opinião que ninguém lhes pediu
sexta-feira, dezembro 16, 2005
“O Sócrates não é da Serra!”

Acabo de ver na SporTV uma reportagem sobre a grande surpresa da Liga de Honra, que dá pelo nome de Sporting da Covilhã. Os "Leões da Serra" estão em grande. Só têm duas derrotas esta temporada e estão a três pontos do líder Beira-Mar. Estão a fazer um excelente campeonato com um plantel curto, composto e treinado, maioritariamente, por gente da cidade e arredores.

Mas temo pelo futuro dos serranos. É que um tal de Sr. Cunha – não me lembro se o nome da legenda era este... mas se não for estou-me bem a cagar –, que é o cobrador do clube, revelou aos repórteres do canal que o associado mais ilustre do emblema leonino é o Sr. José Sócrates. Sim. Esse mesmo: o nosso primeiro-ministro!

Em circunstâncias normais, isto até seria boa publicidade. Quer para o clube, que até se pode gabar de ter o mais notável adepto do país, rivalizando assim com os tradicionais emblemas de Lisboa e Porto, quer para o "nosso primeiro", até porque tem as quotas em dia.

Mas as circunstâncias não são normais. E o anúncio do Sr. Cunha – ou seja lá que nome de português de segunda o homem tenha – pode ter precipitado uma avalanche para os lados da Serra da Estrela que arraste o clube do cume para o sopé da montanha!

E isto porquê? Porque ainda esta semana o Governo anunciou que iria obrigar os árbitros dos escalões inferiores a descontar para o IRS e a "acoletarem-se" nas finanças. Vai-se a ver, e os ditos homens do apito revoltam-se e dizem que "não senhor" que "isso não se faz" porque " ganhamos pouco mais de mil euros por mês a apitar quatro jogos do distrital" e isso “vai fazer com que cada vez menos jovens enveredem pela arbitragem”. Dizem até que “o futebol distrital pode ficar sem árbitros”!

– Como sociopata que sou, normalmente a preocupação destes senhores passar-me-ia ao lado. Mas a situação destes seres humanos é tão dramática, tão miserável, que não consigo deixar de sentir um aperto no coração. Onde já se viu?! Ganhar apenas "pouco mais de mil euros" por uma hora e meia de trabalho quatro domingos por mês? É uma barbaridade! –

Mas voltando ao assunto Sp. Covilhã... Como eu dizia: o Sr. Cunha – ou lá como se chama – lixou a estratégia do clube. É que, sabendo que o Sr. primeiro-ministro é sócio e adepto do Sporting serrano, os árbitros passam a ter um alvo para exercer vingança. Portanto, preparem-se adeptos dos "Leões da Serra" porque, a partir de agora, vai ser a doer. Ele vai ser foras-de-jogo tirados ao guarda-redes, cartões amarelos por abraçar adversários, cartões vermelhos por dedicar beijinhos à namorada nas bancadas, pénaltis assinalados por faltas no meio-campo e golos invalidados por excesso de velocidade do remate. A partir do próximo domingo, o Covilhã está condenado à descida à II B. E se o Sr. Sócrates não mudar mesmo de ideias, pode ser que a queda só acabe mesmo nos distritais. Onde, obviamente, o Covilhã não poderá jogar por falta de árbitros. Porque, claro está, não há jovem que se sujeite a 90 minutos de trabalho por semana para receber a mísera quantia de mil euros ao fim do mês!

Resumindo: o Leão da Serra está condenado à extinção.

A única salvação do emblema covilhanense será mesmo uma conferência de imprensa promovida pela Direcção a desmentir o cobrador do clube. O presidente que venha dizer que “não senhor”. Que “esse homem não é de cá”. Que “essa pessoa não faz parte do corpo de associados”. Que “o Sr. Cunha já têm setenta anos e está a ficar senil e não sabe o que diz porque ainda há seis meses teve um AVC”. E que suspeita que “nem o Sr. primeiro-ministro sabe onde é a Covilhã” e que “nem a Covilhã sabe por onde anda o Sr. primeiro-ministro”.

…Pode ser que engulam!

posted by Raimundo @ sexta-feira, dezembro 16, 2005   0 e, se calhar, talvez até mais labregos passaram os olhos por isto e acharam-se qualificados para dar a opinião que ninguém lhes pediu
quinta-feira, dezembro 15, 2005
Eu é que converso com Deus!

Há uns dias, um amigo emprestou-me um livro que, ainda não percebi bem porquê, achou que eu ia gostar. Uma obra com um curioso título: “Conversas com Deus”, do americano Neale Donald Walsh. Intrigado, decidi dar uma vista de olhos ao conteúdo. Pensei eu que seria um daqueles títulos incitativos e que se tratava de um qualquer ensaio teológico. Puro engano meu!... Era mesmo uma conversa com Deus. Sim… um diálogo! Mas não um diálogo normal. A bem dizer, às vezes, assemelha-se mais a uma conversa entre dois drogados a curtir uma trip de ácidos. Daquelas que não são verdadeiramente um diálogo, mas dois monólogos!

Se não, vejam… a certo ponto, Deus, alegadamente, sai-se com isto: (tentem ler com voz arrastada e acrescentem a palavra “man” antes de cada duas ou três palavras) “Tu és um ser humano… E o que estás a ser é decidido e escolhido por ti...
Quando és verdadeiro para com o teu próprio Eu, quando não trais o teu Eu, então, quando "parece" que estás a "dar", sabes que estás de facto a "receber".
Estás literalmente a devolver-te a ti próprio.
Não podes "dar" verdadeiramente a outro, pela simples razão de que não existe "outro". Se somos todos Um, só existes Tu. Não é um truque, mas é magia! E não se trata de mudar as palavras para alterar o sentido, mas de mudar percepções para alterar a experiência.

Quer dizer… quão grande teria que ser a “moca”. Eu não sei o que o tipo andou a tomar… mas o que quer que seja… também quero! Aliás, o meu dealer já está em cima do assunto e à procura de produto desta qualidade!

A seguir vem outra pérola de sabedoria como: (ler da mesma forma) "Eu sou o Ser Supremo... Não sou o resultado de um processo; sou O PRÓPRIO Processo. Sou o Criador, e sou O Processo pelo qual sou criado.
Tudo o que vês nos céus e na terra sou Eu, a ser criado. O Processo da Criação nunca está terminado. Nunca está completo... Nada está imóvel. Nada - nada - está sem movimento. Tudo é energia, em movimento.
"

“Energia em movimento”? “Processo da Criação”? “Ser Supremo”? Isto é lá conversa de Deus?! Isto é palavreado de Engenheiro Electromecânico ganzado!

Eu sim… é que converso com Deus. E muito regularmente, devo dizer. E asseguro-vos que Ele não fala assim. Tem, muito pelo contrário, uma maneira muito terra-a-terra de pensar. Aliás, sempre que falamos, mantemos diálogos absolutamente normais. Daqueles em que há perguntas, respostas, interrupções, pausas constrangedoras, piadas sexistas e em que um fala e o outro finge que ouve.

Ainda ontem fez oito dias e vai ele para mim: “Eh pá, ó Raimundo, queres lá ir a casa jantar?"
E vou eu: “Tss meu, hoje não posso. É pena… sabes que eu gosto dos teus cozinhados”.
E volta Ele: “Eh pá… anda lá. Eu faço aquele lombo de porco assado que tu gostas tanto!... E podemos começar a entrar nos barris de cerveja que já comprei pró aniversário do meu rapaz…”.
E respondi-Lhe eu: “Eh pá, ó Deus, mas hoje é quarta-feira… joga o Benfica com o Manchester prá Liga dos Campeões…”.
E vai ele outra vez, que é chato como o caraças: “Fixe bacano… assim podes ver-me actuar ao vivo enquanto faço um milagre! Hoje vou tentar uma coisa revolucionária… vou dividir o talento do Cristiano Ronaldo pelo Beto e pelo Geovanni e dar as capacidades dos dois brasileiros, mais o feitio do Alberto João Jardim, ao puto madeirense”.
E respondo-lhe eu: “Oh! Isso parece tudo muito divertido, mas tu não tens SporTV em casa meu… e sabes que eu gosto de ver as repetições”.
E prontos… a conversa ficou por aqui porque o jogo já estava quase a começar e tínhamos que ir à nossa vidinha.

Quanto ao livro… Não comprem. Não leiam. Não se incomodem em pedir emprestado a um amigo. O labrego do americano não falou com Deus. Isto porque, para quem não sabe, Deus mora na Pousadinha e raramente sai de casa. E que se saiba, nunca nenhum americano pôs os pés na Pousadinha.

posted by Raimundo @ quinta-feira, dezembro 15, 2005   0 e, se calhar, talvez até mais labregos passaram os olhos por isto e acharam-se qualificados para dar a opinião que ninguém lhes pediu
quarta-feira, dezembro 14, 2005
Funcionários públicos...

Já tentei pensar naquilo que odeio mais à face da terra e não me ocorre nada pior que os funcionários públicos. A SIDA, o Ébola, a guerra no Iraque, os tipos que conduzem jipes de luxo, o gaijo que cuspiu no Mourinho... tudo isso me incomoda. Mas odiar, odiar, odeio os filhos de uma prostituta espanhola dos funcionários públicos.

Não há raça pior! Não há flagelo maior! Não há mais ninguém que me suscite o desejo do homicídio. Não tenho mais saborosa fantasia que entrar numa repartição de finanças ou da Administração Local de caçadeira em punho e começar a disparar indiscriminadamente sobre as sopeiras de xaile beje e camisa de padrão florido e sobre os asnos de pullover às costas que estão do outro lado do balcão. Oh visão gloriosa!

Não há visão pior que uma mulher de meia-idade com cara de quem já não dá uma "cambalhota" há 40 anos sentada numa cadeira com a cabeça à altura do balcão a estender-nos um impresso qualquer enquanto olha para nós por cima de uns óculos de hastes finas equilibradas na ponta do nariz. Porque é que todos os funcionários públicos olham para nós por cima das lentes? Por que andam sempre com os óculos na ponta do nariz? Se não olham através deles, para que precisam de os usar? Será que lhes dá auto-confiança?

Não há frases mais odiosas que "...assine aí onde 'tá a cruzinha.", ou “…pois… estamos com um problema no computador e não lhe podemos resolver isso.”, ou ainda "...agora vai ao guichet Y e entrega isso à minha colega, depois passa na Tesouraria para pagar, e depois vem aqui buscar o recibo.”. Mas a mais detestável de todas, aquela que me provoca suores frios, a que me faz engolir em seco, revirar os olhos, suster a respiração e cerrar os dentes, é a clássica "...pois... isso não é aqui, é na repartição X. Ai já lá foi e disseram-lhe que era aqui?... pois, mas não é. É lá.". Oh calamidade, que a esta altura só me apetece ir ao pescoço daquela amostra de ser humano e apertar devagarinho para saborear durante mais tempo a sua agonia enquanto sufoca.

Os funcionários públicos portugueses são os profissionais – no sentido de que têm uma profissão. Não confundir com profissionalismo – mais incompetentes do País. Não sabem… não fazem ideia… não querem saber (este devia ser o lema deles) e têm os computadores sempre avariados. Talvez seja por isso que os processos não andam. Os telefones, por outro lado, funcionam sempre. Mas em vez de os utilizarem para chamar um técnico de informática que conserte o computador, telefonam para a irmã, para a filha, para a cunhada e para a prima que, por sinal, também são funcionárias públicas, ou não teriam tempo para manter conversas de 30 minutos a meio da tarde. E, enquanto isso, um comum cidadão empregado no sector privado está a dar uma falta injustificada enquanto espera durante quase meia-hora que a vaca que está ao telefone lhe venha vender a porcaria do selo para o automóvel que está na rua a ser multado por um outro funcionário público gordo e com bigode que reparou que o tempo do parquímetro se esgotou há 10 minutos atrás.

RAÇA ESCOMUNGADA!!!

posted by Raimundo @ quarta-feira, dezembro 14, 2005   2 e, se calhar, talvez até mais labregos passaram os olhos por isto e acharam-se qualificados para dar a opinião que ninguém lhes pediu
terça-feira, dezembro 13, 2005
O porquê de um blog...
Na verdade não tenho que dar nenhuma explicação a ninguém. Apeteceu-me e prontos! Ninguém tem nada a ver com isso. A bem dizer... toda a gente tem um blog. Sei lá... é uma espécie de moda. De modos que vai daí e resolvi que também não queria ficar de fora. E ele há cada blog para cada merda de assunto... Talvez seja por isto. Porque posso dizer "merda" no meu blog. Apesar de haver muitos por aí que se fartam de dizer merda sem sequer dizerem "merda".

Eu gosto de dizer "merda", apesar de, à partida, não gostar de merda... ou de qualquer merda. Por isso, assumo-o desde já, para que no futuro não haja equívocos. Eu, Raimundo Salgueiro, um pessimista por natureza, prometo aqui e agora que, de futuro, os casuais visitantes deste singelo blog se vão fartar de ler "merda" neste espaço. Se não se importarem, que vos faça bom proveito; Se vos fizer impressão, não comam; Se se sentirem ofendidos têm bom remédio: vão à merda!... Em qualquer dos casos, eu não me poderia importar menos!
posted by Raimundo @ terça-feira, dezembro 13, 2005   0 e, se calhar, talvez até mais labregos passaram os olhos por isto e acharam-se qualificados para dar a opinião que ninguém lhes pediu
 


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