terça-feira, outubro 31, 2006
Verdades THC
Lá porque um gaijo não se lembra não quer dizer que se tenha esquecido.
posted by Raimundo @ terça-feira, outubro 31, 2006   3 e, se calhar, talvez até mais labregos passaram os olhos por isto e acharam-se qualificados para dar a opinião que ninguém lhes pediu
domingo, outubro 08, 2006
Os pulhas
Leio hoje no DN uma notícia sobre violência nas escolas – de alunos sobre alunos – e não consigo deixar de me rever nos personagens. No Daniel, na Sara e no Francisco. Nas vítimas, pois claro.

Leio o artigo e assaltam-me a memória os momentos de sobressalto de cada vez que tinha que entrar no pavilhão da sala de aulas pelo meio de duas filas cerradas de pulhas – uma de cada lado da porta – de braço levantado à espera de se abaterem com um ódio irracional sobre o cachaço dos marrões das mochilas. Assolam-me o pensamento todos os minutos que passei amarrado pelos atacadores a um qualquer poste do ciclo. E entre o 5º e o 9º ano devo ter estado atado a todos os postes – inclusive aos das balizas do campo de futebol e aos suportes das tabelas de basket – daquela escola. Recordo-me das “barrelas”, dos roubos do dinheiro do almoço, dos berlindes e dos piões, das chapadas e dos pontapés gratuitos. Da violência física e psicológica exercida sem motivo nem provocação. Quantos pensamentos de ódio não me passaram pela cabeça nesses momentos… Quantos planos de vingança.

Apesar dos tormentos a que era sujeito quase diariamente, continuava a ir à escola. Sem medo. Continuava a passar por entre as duas filas de braços a abater-se sobre a minha cabeça. A passar incontáveis minutos a tentar desatar os nós dos atacadores e a tirar lixo de dentro das calças. De vez em quando chateava-me a sério e lá voava um murro em direcção ao nariz mais próximo. Obviamente, depois, levava a dobrar ou a triplicar porque a força desses pulhas reside exactamente no número. Mas pelo menos recuperava algum do meu orgulho.

Eventualmente a tortura acabou. Aos poucos foram-me deixando em paz. Porque, quer dizer, um miúdo cresce. E os pulhas são pulhas mas não são estúpidos de todo ao ponto de se meterem com alguém que já tem o seu tamanho. Além do mais, todos os anos entra “carne fresca” para torturar, humilhar, mutilar. E eles recebiam-na com o mesmo entusiasmo com que eu, e os outros marrões das mochilas, abríamos os livros novos ainda a cheirar a cola ou as sebentas imaculadas ainda sem vincos à espera dos primeiros traços de tinta.

A escola acaba um dia. E os pulhas passam a ser uma má memória. Eventualmente esquecemo-los. Tal como aos planos de vingança e aos pensamentos de ódio que nutríamos por essa corja.

Mas o universo tem a sua própria maneira de equilibrar as coisas. De compensar. Hoje entro no café da aldeia à noite e vejo-os encostados ao balcão atrás de um copo de vinho e de um SG Gigante. Vestem camisola de lã rasgada e suja de cal, estuque, tinta ou cimento, tal como as calças de ganga e as botas de sebo. Usam um boné de plástico com o logótipo já quase imperceptível de uma empresa de materiais de construção. E os olhos fundos e faces rosadas denunciam o abuso do álcool. Vêem-me e tratam-me por “doutor”, “senhor doutor” e alguns, nem sei porquê, por “senhor professor”. E contam aos presentes, em voz arrastada, os tempos em que andámos juntos na escola. Omitem, obviamente, a parte em que me pontapeavam, atavam aos postes, agrediam e humilhavam, e exageram sempre a minha inteligência: como era esperto, e sabia muito, às vezes até mais que o próprio professor.

Pulha que é pulha nunca deixa de o ser. E não elogia por elogiar. Espera sempre alguma coisa em troca. Eu sei disso. Dou-lhe uma palmadinha cínica nas costas e peço ao dono do café duas cervejas. “Uma para mim e outra aqui para o meu amigo Zé, que ele merece”. E ele fica todo contente e gagueja um “obrigado”. E eu sorrio. Ele nem se apercebe, mas esta… é a minha vingança.
posted by Raimundo @ domingo, outubro 08, 2006   9 e, se calhar, talvez até mais labregos passaram os olhos por isto e acharam-se qualificados para dar a opinião que ninguém lhes pediu
 


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